Patrícia Cotrim, a nova Diretora Técnica e Executiva da ATEVA, inicia funções com uma visão estratégica clara: reforçar o posicionamento da associação como referência na promoção de uma vitivinicultura sustentável, inovadora e de qualidade no Alentejo. Determinada a reforçar os laços com os viticultores e a fomentar a transferência de conhecimento técnico e científico, a dirigente aposta numa atuação próxima, baseada em escuta ativa e numa maior digitalização dos serviços. Uma entrevista exclusiva à VIDA RURAL.
Quais os principais objetivos enquanto nova Diretora Técnica e Executiva da ATEVA?
Assumo este desafio com o objetivo de reforçar a posição da ATEVA como entidade de referência na promoção da vitivinicultura sustentável e de qualidade no Alentejo. Pretendo reforçar ainda mais a ligação entre a Associação e os viticultores, fomentar a transferência de conhecimento técnico e científico, e promover uma abordagem mais estratégica à inovação, sustentabilidade e valorização do território.
O que a motivou a aceitar este novo desafio na ATEVA?
A ATEVA tem um papel fundamental na representação e apoio técnico aos viticultores do Alentejo. Ser parte ativa dessa missão é profundamente motivador. Encaro esta função como uma oportunidade para colocar a minha experiência ao serviço de um setor que admiro e que considero essencial para o desenvolvimento económico, social e cultural da região.
A nossa estratégia estará assente em três eixos principais: capacitação técnica dos viticultores, reforço da sustentabilidade da produção e defesa de todos os interesses sociais e económicos dos nossos associados.
De que forma a sua experiência anterior no setor agroalimentar pode contribuir para a missão da Associação?
A minha experiência em projetos de fileira, inovação agroalimentar, sustentabilidade e certificação de qualidade permite-me trazer uma visão integrada e prática dos desafios e oportunidades do setor. Conheço o tecido empresarial, o Sistema Técnico-Científico e as entidades da administração central e regional com intervenção na política agrícola e vitivinícola, o que facilita a mediação entre os diferentes intervenientes e a concretização de soluções ajustadas à realidade local.
Que estratégias pretende implementar para reforçar a valorização da vitivinicultura no Alentejo?
A nossa estratégia estará assente em três eixos principais: capacitação técnica dos viticultores, reforço da sustentabilidade da produção e defesa de todos os interesses sociais e económicos dos nossos associados.
Em primeiro lugar, vamos intensificar a aposta na formação contínua e na assistência técnica de proximidade, com especial foco na proteção e produção integrada, boas práticas agrícolas, uso eficiente de recursos e adoção de tecnologias inovadoras. A capacitação dos nossos associados é fundamental para garantir uma viticultura tecnicamente competente e preparada para responder às exigências do mercado e das políticas públicas.
Em segundo lugar, queremos dinamizar ações de experimentação e demonstração em contexto real, em articulação com entidades de ensino superior, centros de investigação e parceiros institucionais, nacionais e internacionais. Estas parcerias permitirão testar soluções adaptadas à realidade do Alentejo, desde estratégias de adaptação às alterações climáticas até modelos de produção mais resilientes e regenerativos.
Por fim, trabalharemos para reforçar a articulação entre a produção e os instrumentos da política vitivinícola nacional e europeia, informando os viticultores sobre os princípios orientadores desses instrumentos, apoiando candidaturas a programas como o VITIS, e promovendo o acesso aos apoios públicos.
Acredito que só através de uma abordagem técnica, cooperativa e orientada para a inovação será possível consolidar uma vitivinicultura alentejana ainda mais qualificada, sustentável e valorizada.
Como poderá a associação aproximar-se mais dos viticultores e responder melhor às suas necessidades?
A escuta ativa é fundamental. Vamos intensificar a presença no terreno, promover fóruns de diálogo técnico e adaptar os serviços da associação às realidades de produtores de diferentes dimensões. A digitalização de processos e uma comunicação mais direta e eficiente também serão prioridades para facilitar o acesso à informação.

Acredito que só através de uma abordagem técnica, cooperativa e orientada para a inovação será possível consolidar uma vitivinicultura alentejana ainda mais qualificada, sustentável e valorizada.
Como encara o papel das mulheres em cargos de liderança no setor agrícola, especialmente na área vitivinícola?
Vejo com muito otimismo a crescente presença feminina em posições de liderança. A diversidade de perspetivas é um valor acrescentado e tem impacto direto na gestão, na inovação e na sustentabilidade das organizações. Ainda há caminho a percorrer, mas acredito que o setor vitivinícola está cada vez mais recetivo ao talento e competência, independentemente do género.
Há planos para dinamizar o enoturismo como forma de valorização do território e dos vinhos locais?
O enoturismo é uma ferramenta estratégica para valorizar o produto e o território. A ATEVA pode desempenhar um papel facilitador na articulação entre produtores, autarquias e operadores turísticos, incentivando boas práticas e a criação de experiências autênticas e sustentáveis que reforcem a ligação entre vinho, cultura e paisagem.
O Alentejo tem todas as condições para continuar a afirmar-se como uma região vitivinícola mundial de excelência.
Como avalia os apoios públicos atuais à vitivinicultura regional?
Os apoios públicos são essenciais, mas há margem para simplificação dos processos e uma maior adequação às necessidades reais dos produtores. É necessário garantir que os instrumentos de política pública incentivem a modernização, a inovação, a sustentabilidade e a continuidade da atividade agrícola no mundo rural.
Que visão tem para o futuro da vitivinicultura no Alentejo?
Vejo um setor resiliente, cada vez mais orientado para a qualidade, inovação e sustentabilidade. O Alentejo tem todas as condições para continuar a afirmar-se como uma região vitivinícola mundial de excelência, continuando o trabalho de valorização dos seus recursos humanos e naturais e adaptando-se aos desafios das alterações climáticas e dos mercados internacionais.
Portugal tem um património vitivinícola riquíssimo, mas enfrenta desafios como a fragmentação da produção, o envelhecimento dos produtores e as exigências crescentes dos mercados.
Qual o papel da inovação tecnológica e da modernização agrícola no futuro da viticultura?
Esses fatores são absolutamente determinantes. Tecnologias como a agricultura de precisão, o uso eficiente da água, e os sistemas de apoio à decisão permitem aumentar a rentabilidade, reduzir o impacto ambiental e melhorar a qualidade do produto. A ATEVA terá um papel ativo na promoção e na formação sobre estas ferramentas junto dos seus associados.
Na sua ótica, qual o estado atual da viticultura em Portugal e o que é preciso melhorar?
Portugal tem um património vitivinícola riquíssimo, mas enfrenta desafios como a fragmentação da produção, o envelhecimento dos produtores e as exigências crescentes dos mercados. É necessário manter o foco na consistência e qualidade da produção, e na promoção nacional e internacional, sem nunca perder a autenticidade e a ligação ao território que tornam os nossos vinhos únicos.