A Universidade de Coimbra (UC) vai eliminar o consumo de carne de vaca nas suas cantinas universitárias a partir de janeiro de 2020, anunciou esta terça-feira (17 de setembro) o reitor da instituição, Amílcar Falcão.
De acordo com o reitor da Universidade de Coimbra, este será o primeiro passo para, até 2030, tornar a UC “a primeira universidade portuguesa neutra em carbono(…) Vivemos um tempo de emergência climática e temos de colocar travão nesta catástrofe ambiental anunciada”.
A carne de vaca será substituída “por outros nutrientes que irão ser estudados, mas que será também uma forma de diminuir aquela que é a fonte de maior produção de CO2 que existe ao nível da produção de carne animal”.
“Eu creio que o maior impacto é a consciencialização das pessoas para o problema. Aquilo que é mais dramático é ver os líderes mundiais a não perceberem que está em causa o futuro do planeta e dos nossos jovens, dos nossos filhos e netos e, isso, é demasiado preocupante para não alertarmos para o problema, mesmo que sejam pequenos gestos”, disse ainda Amílcar Falcão. Segundo a Universidade de Coimbra, todos os anos são consumidas cerca de 20 toneladas de carne de vaca nas cantinas da instituição.
A Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) já emitiu, entretanto, um comunicado em que manifesta a sua “profunda perplexidade relativamente à notícia respeitante à eliminação da oferta de carne de vaca nas 14 cantinas alimentares da Universidade de Coimbra.”
“A invocada ‘emergência climática’, desígnio que a todos convoca, não deve – não pode – servir de pretexto para a tomada de decisões infundadas, baseadas em alarmismos incompreensíveis. Esta decisão, tomada num contexto universitário, espaço de liberdade e de conhecimento, ainda causa maior perplexidade. A anunciada imposição, que privará alunos, professores e funcionários, de um elemento que faz parte da dieta alimentar portuguesa e mediterrânica, é uma limitação à sua liberdade de escolha e contribui para confundir os portugueses, porque é alarmista e assenta em pressupostos infundados. A agricultura, onde se inclui a floresta e pecuária, é a principal atividade desenvolvida pelo Homem que mais contribui para a captura de carbono. O esforço de descarbonização faz-se com a agricultura e com os agricultores e não contra a agricultura e contra os agricultores”, diz ainda a CAP.
A CAP diz ainda que “condenamos a adoção de uma medida deste tipo, que contraria o que devem ser políticas públicas responsáveis e coincidentes com a estratégia nacional de desenvolvimento sustentável e de descarbonização da economia.”
A Associação dos Produtores de Leite de Portugal (APROLEP) também já se veio manifestar e diz estar solidária com todos os criadores de bovinos em Portugal.
“É incompreensível que o reitor de uma universidade com 700 anos de história queira banir um alimento com milhares de anos e que terá contribuído para o desenvolvimento do cérebro dos nossos antepassados. ‘Ficámos espertos porque comemos carne’, foi uma afirmação recente do respeitado patologista Sobrinho Simões, em entrevista. Não queremos um retrocesso baseado no programa de proibições de uma minoria ativista e barulhenta”, sublinha ainda a APROLEP.
“Portugal importa quase 50% da carne bovina que consome. Quem se preocupa com a pegada ecológica dos alimentos pode começar por escolher carne nacional, sem consumo de combustíveis na importação e baseada na pastagem ou cultivo de terras que de outra forma ficariam abandonadas, sendo pasto privilegiado para incêndios que, além do perigo de vida para as populações, são uma enorme libertação de carbono para a atmosfera”, acrescenta.