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Prudência

A recente moda da agricultura está a levar alguns municípios a investir na promoção da atividade agrícola. Com a crise a chegar ao betão, as autarquias multiplicam-se em iniciativas para fixar a comunidade rural existente e cativar jovens agricultores e empreendedores a apostar no setor primário e a cultivar terras.

A recente moda da agricultura está a levar alguns municípios a investir na promoção da atividade agrícola. Com a crise a chegar ao betão, as autarquias multiplicam-se em iniciativas para fixar a comunidade rural existente e cativar jovens agricultores e empreendedores a apostar no setor primário e a cultivar terras.

Hortas comunitárias e empresariais começam a tomar forma e o conceito de ‘banco de terras’, que câmaras municipais e o próprio ministério da Agricultura colocaram em prática, está em expansão. Até aqui tudo perfeito. O regresso à terra, à valorização da agricultura e dos agricultores, à necessidade de diminuir a nossa dependência de bens alimentares e de fixar gente para além do litoral é meritório. Mas é preciso perceber o que está para além destas nobres intenções. Ou seja, quantos projetos agrícolas vamos incentivar sem que exista mercado para eles? Quantas pessoas se vão endividar, ou investir as suas poupanças, sem qualquer planeamento sério do retorno da atividade?

 

O agricultor moderno (e não falo obviamente de quem gere hortas para auto consumo) independentemente da sua dimensão, tem de ser profissional. Tem de ter formação, contínua e abrangente, tem de estar organizado. Tem de saber o que o mercado quer, o que é necessário produzir, a quem vai vender e a que preço. E tudo isto antes de lançar a semente à terra.

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Não quero com isto dizer que a agricultura deva ser uma atividade elitista e restrita a um grupo de profissionais com provas dadas. Mas é preciso alertar os mais incautos para o perigo de chegar ao mercado sozinho e sem rede. Daí a importância decisiva de procurar apoio em associações ou organizações de produtores, de aprender com quem já faz, de agrupar a produção e vender em conjunto, de conseguir escala e beneficiar de fatores de produção a preços competitivos.

 

Que é preciso fazer mais e melhor agricultura ninguém duvida e é preciso apoiar quem está neste momento a incentivar este ‘movimento’. Mas é necessário fazê-lo com sensatez e espírito empresarial, sob pena de dentro de pouco tempo nos estarmos a queixar da nossa má sorte.