Escrevi, recentemente, um pequeno artigo onde analiso as recentes colocações de estudantes em cursos na área “agro” no ensino superior, onde dou nota da desilusão que continua a ser ver cada vez mais vagas por preencher e alguns cursos a zero na primeira fase do concurso.
Entre as várias reações a este tema, sublinho alguns comentários que davam conta da forma como o ensino e os livros escolares descrevem a agricultura. Quem tem filhos nos primeiros níveis de escolaridade sabe que os manuais sustentam a narrativa de que a atividade agrícola é uma das principais causadoras de danos ao ambiente. Recordo, e esta história já tem cerca de oito anos, o dia em que fui à escola da minha filha falar de agricultura. A minha plateia, uma turma do 4.º ano, com meninos de 9/10 anos, foi extremamente hostil. A ideia vigente era de que os agricultores eram as pessoas que usavam pesticidas e criavam animais para matar. Nesse dia, tive a compreensão e interesse de apenas um aluno, um menino ucraniano, oriundo de um país agrícola, onde a ligação com a terra é umbilical.
Um pouco mais tarde, no 5.º ano, troquei mensagens tensas com a professora de Ciências da Natureza quando a criança chegou a casa a dizer “Mãe, a agricultura é má para o planeta e para o ambiente!!!”. O máximo que consegui foi uma correção da docente para “Desculpe, eu queria dizer que a agricultura intensiva é nociva para o ambiente”. E perguntei: mas sabe o que é a agricultura intensiva? Não sabia, não. Mas era o que estava a ensinar.
“É urgente repensar a informação dos manuais escolares. E sensibilizar a pasta da Agricultura para a necessidade de discutir esta questão com a pasta da Educação. E chegar a consensos, com base científica, sem fundamentalismos ideológico-ambientais.”
É óbvio que o desinteresse pelos cursos “agro” tem explicações de várias naturezas, que vale a pena analisar e discutir para encontrar soluções. A agronomia é uma ciência cada vez mais rica e complexa e é preciso garantir que os cursos refletem essa modernidade. Mas é urgente repensar a informação dos manuais escolares. E sensibilizar a pasta da Agricultura para a necessidade de discutir esta questão com a pasta da Educação. E chegar a consensos, com base científica, sem fundamentalismos ideológico-ambientais, para fazer pedagogia sem demagogia.
#agricultarcomorgulho