Na passada semana a imprensa internacional foi inundada por notícias que davam conta da publicação de um estudo que parece indicar que a produção de hortofrutícolas pode ser mais prejudicial do que a produção de, por exemplo, bacon. A ideia foi desde logo contestada porque, afinal, parece que nem tudo é assim tão linear…
O estudo de que falamos é uma investigação da Carnegie Mellon University, nos EUA, que depois da publicação de recomendações de consumo de mais frutas e legumes do Departamento de Agricultura dos EUA veio dizer que a produção de bacon e de outros alimentos processados é menos prejudicial do que a produção de hortofrutícolas.
De acordo com os investigadores, a produção de hortofrutícolas tem uma emissão de gases com efeito de estufa superior por caloria. O estudo mede as mudanças na utilização de energia e dos gases com efeito de estufa associados aos padrões de consumo dos Estados Unidos da América.
“Comer alface é três vezes pior para as emissões de gases com efeito de estufa do que comer bacon”, refere Paul Fischbeck, um dos responsáveis pelo estudo. “Muitos dos vegetais mais comuns requerem mais recursos por caloria do que seria de pensar. Beringela, aipo e os pepinos parecem particularmente maus quando comparados com porco ou frango”, refere.
Mas de acordo com a Modern Farmer, não é assim tão simples. O press release emitido pela universidade não foi escrito pelo investigador Michelle Tom, autor do estudo.
O investigador explica ao site que na verdade, o que o estudo pretende frisar é que nem todos os hortofrutícolas têm o mesmo impacto no ambiente e esse impacto pode variar consoante o consumo feito pelos consumidores.
Assim, são traçados três cenários diferentes, todos relacionados com o consumo calórico de um norte-americano, estimado em cerca de 2 390 calorias por dia, e com as recomendações do Departamento de Agricultura dos EUA em relação às percentagens de cada grupo alimentar que deveríamos estar a ingerir.
No primeiro cenário traçado, o investigador estima que continuaremos a comer todos os tipos de alimentos nas mesmas proporções, isto é, dietas ricas em carne, em vez da recomendação de mais hortofrutícolas feita pelo Departamento de Agricultura dos EUA.
No segundo cenário, o cientista estima uma contagem de calorias diária igual à de hoje, mas com uma variedade de produtos que vá ao encontro das recomendações do Departamento de Agricultura dos EUA. Por fim, no terceiro cenário, o cientista estima uma redução no consumo calórico e uma mudança na variedade de alimentos que consumimos.
Em jeito de conclusão, o investigador explica que apenas o primeiro cenário resultaria num efeito positivo para o ambiente, o que parece inesperado, uma vez que somos todos influenciados a consumir mais hortofrutícolas não só devido à ideia de que nos fará bem a nós, mas também ao ambiente. Mas de acordo com o cientista, não é esse o caso.
Ainda assim, o investigador refere que comparar a produção de alface à produção de bacon é “absurdo”. Para fazer uma comparação desse tipo, teríamos que comparar os dois alimentos por contagem calórica em vez de pelo peso ou pelos benefícios nutritivos. Teríamos que assumir que qualquer pessoa iria trocar o consumo de proteína por um vegetal composto maioritariamente por água, o que nem sequer é o que o Departamento de Agricultura dos EUA recomenda”, refere.
Leia o estudo.