A batata é um dos poucos produtos alimentares com importância na União Europeia que não é abrangido por nenhuma Organização Comum de Mercado (OCM), não existindo qualquer ajuda, quer para os Agrupamentos, quer para as Organizações de Produtores. No entanto, é a exploração agrícola, que não é um cereal, com maior importância na agricultura mundial.
Ao contrário dos cereais, a batata não é uma mercadoria comercializada globalmente. Apenas uma parte da produção total de batata é importada e o seu preço no mercado é determinado, geralmente, pelos custos de produção local, e não pelos mercados internacionais. Portugal, por exemplo, é autossuficiente na batata e apenas 30% da batata consumida no nosso país é proveniente de países terceiros. A batata é, portanto, uma cultura altamente recomendada no âmbito da segurança alimentar. Trata-se de um alimento que pode potenciar a sustentabilidade financeira dos pequenos produtores agrícolas, assim como se revela de uma enorme importância na contribuição para a nutrição da população dos países em desenvolvimento.
O combate à fome e à escassez de recursos tem sido um forte impulsionador da pesquisa por alimentos “melhorados”. Estamos a investigar e a investir em “cereais melhorados”, mas também a batata é estudada nesse sentido. Um exemplo é a batata-doce, a sétima exploração agrícola com maior importância à escala mundial. Nos países em desenvolvimento é a terceira mais importante e a quinta com a maior contribuição para a nutrição da população destes países. A batata-doce não só é um alimento de subsistência, como é muito utilizada para alimentação animal, na produção de bebidas alcoólicas e por diferentes indústrias não alimentares.
Em termos nutricionais, os três grandes diferentes tipos de batata – vermelha, branca e doce, diferem entre si pela quantidade de amido resistente, o que vai influenciar a sua aplicabilidade a diferentes técnicas de confeção.
A batata é 20% hidratos de carbono, 75% água e 5% proteína, vitaminas e minerais. À medida que o seu teor em hidratos de carbono aumenta, o seu teor em água diminui e vice-versa.
A variedade com maior percentagem de amido (mais de 22% da batata) é a batata vermelha. Esta é descrita como a batata farinhenta. É mais indicada para fritar/assar já que é uma variedade que tem a capacidade de manter a sua forma física após confeção. A batata vermelha é associada ao licopeno, um composto de coloração vermelha, considerado um dos carotenoides com maior poder antioxidante.
A batata com menor percentagem de amido, podendo atingir 13%, ou menos, é a batata branca, a batata cerosa. Esta batata é mais indicada para cozer. Quando confecionada, torna-se translúcida. É uma boa opção para saladas, sopas, molhos, pratos onde se pretende uma textura cremosa. A batata branca é associada à alicina, um composto orgânico com propriedades antibacterianas e antifúngicas.
As diferentes variedades de batata são fonte de hidratos de carbono, fibra, proteína, vitaminas, como a vitamina C e vitaminas do complexo B, assim como de minerais, como potássio, cobre, manganês e ferro. A sua composição em fitoquímicos confere-lhe vantagens no âmbito da prevenção de doenças cardiovasculares e do cancro. A batata vermelha e batata branca apresentam maior índice glicémico do que o arroz e a massa, já a batata-doce apresenta menor e, por isso, será a mais indicada na presença de Diabetes Mellitus e prática regular de exercício físico. A batata-doce apresenta ainda algumas diferenças, quando comparada com as outras variedades, como menos calorias por porção e maior teor em fibra. A batata vermelha é a que apresenta menos fibra quando comparada com a branca e com a doce, mas maior composição em potássio. A batata branca destaca-se pela sua riqueza em vitamina C onde apenas uma porção desta batata assegura 56% das RDA (recomendações dietéticas adequadas).
O consumo de batata é associado como tendo uma relação direta com o aumento de peso corporal. A batata, quando comparada com os cereais, não apresenta diferenças significativas no que respeita à sua densidade energética. A indicação da restrição da batata na sopa em contexto de dietas de emagrecimento é motivada apenas por não existir a tradição de adicionar arroz e/ou massa às sopas. Se assim fosse, também estes alimentos tinham uma presença restrita na sopa.
Uma alimentação saudável e equilibrada pressupõe a ingestão de 4 a 11 porções, considerando aportes energéticos entre 1300 kcal e 3000 kcal, do grupo dos “Cereais e derivados, e tubérculos”.
A batata desidratada é um produto com grande versatilidade que está representado no mercado em produtos como produtos de pastelaria, alimentos pré-confecionados, soluções para a Restauração Pública e Coletiva. Este produto não oferece grandes diferenças nutricionais pelo que não compromete a garantia do fornecimento das necessidades nutricionais do consumidor.
Dica para o consumidor
A riqueza nutricional da batata está na casca. É importante educar o consumidor neste sentido e ensinar-lhe que não descascar as batatas antes da confeção reforça a sua capacidade antioxidante. Ainda, trata-se de uma forma de promover o aproveitamento de “sobras nobres”, uma forma de responsabilidade ambiental sua e do consumidor. É preciso desmistificar o aproveitamento de sobras nobres. Hoje em dia, o consumo de casca de batata frita já é uma tendência na Restauração Coletiva, mas são urgentes mais ideias para aproveitar estes resíduos e a consciencialização da população para esta problemática.
Artigo publicado na edição de julho/agosto da revista VIDA RURAL