Há anos que a UCASUL espera poder concretizar este projecto de clara importância para o Alentejo em termos ambientais, sociais e energéticos. “Já tivemos de ‘deixar ir embora’ os três parceiros iniciais mas já temos um pré-acordo com outro parceiro nacional. Só falta a licença”, lamenta Luís Mira Coroa, presidente da União de Cooperativas.
O projecto voltou a ser apresentado recentemente em Alvito ao ministro da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, uma iniciativa que António Serrano apoiou, mas a decisão está na alçada do Ministério da Economia, mais propriamente do secretário de Estado da Energia, Carlos Zorrinho. “A carta que recebemos da Direcção-Geral da Energia (DGE) remete para o programa de 2016/2020, cujos projectos começarão a ser escolhidos a partir do próximo ano”, explica Luís Mira Coroa.
Até agora só foram dadas licenças para centrais de produção de energia a partir de biomassa florestal, esta seria (será?) a primeira central de biomassa agrícola em Portugal. Em Espanha já existem várias e, curiosamente, a União de Cooperativas do Sul (UCASUL – ver caixa) exporta grande parte do bagaço tratado para algumas destas centrais.
O projecto “Aproveitamento de bagaço de azeitona para a produção de energia eléctrica” tem em vista a construção de uma central de produção de energia, a partir da biomassa, aproveitando aquele produto, oriundo dos lagares do Alentejo. “Este é um projecto que tem importantes mais-valias para o sector e para a região”, salienta o presidente da UCASUL.
Trabalhar o ano todo
A fábrica da UCASUL, em Alvito, dedica-se à secagem e extracção do bagaço de azeitona que depois comercializa directamente (bagaço tratado) ou vende à sua unidade Mariano Lopes e Filhos, situada logo ao lado, que procede à refinação e comercialização do óleo de bagaço. Hoje estas unidades laboram pouco mais de seis meses e meio por ano mas “com a construção da central passaremos a trabalhar durante dez ou 11 meses, podendo assim aumentar o número de postos de trabalho permanentes e a riqueza desta região do Baixo Alentejo”, salienta Luís Mira Coroa.
Para poder ter a capacidade instalada que hoje tem, a União de Cooperativas fez vários investimentos, nomeadamente na construção de uma nova bacia para receber o bagaço, nos secadores e numa caldeira, tudo para poder secar o bagaço, que depois é usado como combustível na própria unidade ou vendido para biomassa.
A UCASUL presta um importante serviço aos lagares, uma vez que assegura o transporte do bagaço “desde o Algarve a Portalegre, sem custos para o produtor. Temos capacidade de secagem de 300 mil toneladas e os números têm vindo sempre a crescer pelo que na campanha de 2009/10 tratámos cerca de 120 mil toneladas. Mas estamos a contar que na campanha deste ano e do próximo haja um aumento considerável devido à entrada em produção de muitos dos novos olivais intensivos de empresários espanhóis, e não só”, diz o responsável. A União de Cooperativas tem já acordo com vários grandes produtores da região, como a Sovena, para receber o bagaço dos seus novos olivais do projecto Elaia e também do Projecto Terra que o grupo nacional adquiriu recentemente à SOS espanhola.
Um projecto para a região
A localização da central de biomassa em Alvito no Alentejo Central, muito perto e com bons acessos à zona de Ferreira do Alentejo, é também fundamental, além de ficar mesmo ‘encostada’ a linhas de alta tensão que “têm capacidade, o problema é que ainda não temos um Ponto de Injecção na Rede (PIR)”, salienta Luís Mira Coroa.
Por isso, depois de se ver obrigada a ‘deixar cair’ o pré-acordo que tinha, desde 2008, com três grupos – um nacional, um espanhol e um belga –, a União de Cooperativas tem agora um novo pré-acordo com a Luso-Insular – Projectos e Investimentos, uma empresa nacional especializada em energias alternativas, principalmente eólica. “Mas precisamos de ver o projecto andar porque a central só poderá começar a funcionar cerca de dois anos depois de se iniciar a construção”, diz o responsável.
A capacidade da central de biomassa será de cerca de 13?MW, contando com o processamento de cerca de 300 mil toneladas de azeitona, o que Luís Mira Coroa garante ser “perfeitamente possível uma vez que há mais de 50 mil hectares de olival plantados, sendo grande parte dele intensivo e super intensivo”. O investimento deverá rondar “15 a 20 milhões de euros” e o projecto será responsável pela criação de mais “cerca de 20 novos postos de trabalho”. •
A UCASUL
A UCASUL nasce da união de oito cooperativas Agrícolas do Baixo Alentejo – Beja, Brinches, Beringel, Vidigueira, Serpa, Ferreira do Alentejo e Aljustrel (transversalidade de representação do sector). Mais tarde as cooperativas de Beja e Brinches uniram-se e as de Aljustrel, Ferreira e Serpa fecharam.
A aquisição da empresa Mariano Lopes e Filhos, em Alvito, em 1992 foi o primeiro passo no início da procura de uma solução para o sector em termos de tratamento do bagaço de azeitona.
Em 2001 foi feito um investimento de 5M€ numa unidade nova de secagem de bagaços de azeitona, viabilizando a extracção de azeite em duas fases.
No presente a unidade de Alvito trabalha com mais de 50 lagares que entregam bagaços de duas e três fases, sendo apenas cerca de 50% proveniente do sector cooperativo.
A Mariano Lopes e Filhos tem capacidade instalada para processar mais de 300 mil toneladas por ano e mais de 1000 toneladas em 24 horas (bagaço de duas fases, que é a grande maioria). Considerando 7t/ha de bagaço de azeitona o valor médio, tem capacidade instalada para mais de 40.000ha de olival.
A unidade emprega cerca de 30 pessoas e exporta 90% da produção.
A biomassa produzida tem potencial para que se possa produzir ± 13MW de energia eléctrica, por isso a aposta na construção de uma central.
Além disso, a UCASUL fez uma parceria com o Centro de Biotecnologia Agrícola e Agro-Alimentar do Baixo Alentejo e Litoral (CEBAL) num projecto de I&D para determinar a melhor forma de valorizar a biomassa em questão (possível mercado da industria farmacêutica entre outros) e trabalha de perto com a Universidade de Gales (Reino Unido) no estudo de sistemas de depuração de águas residuais produzidas no sector.