A bactéria Pseudomonas syringae. pv. actinidiae (PSA) é o agente causal da doença chamada Cancro bacteriano do Kiwi, foi identificada pela primeira vez no Japão em 1984 e anos mais tarde na Coreia. A doença encontra-se oficialmente presente em Espanha, França, Itália, Suíça, Turquia, Austrália, Nova Zelândia e Chile. Tem causado, nos últimos anos (dados de 2014), prejuízos avultados na produção e tem conduzido, nalguns casos, à morte de plantas e consequente arranque de pomares, tendo graves consequências económicas.
Em Portugal, o primeiro foco da doença foi detetado em março de 2010, na região de Entre Douro e Minho, e a sua maior incidência teve lugar entre 2011 e 2012, “em plantas novas importadas, que já vinham infetadas com PSA”, explica à VIDA RURAL, Fernão Veloso, responsável pelo departamento técnico da organização de produtores Frutas Douro ao Minho. A OP tem 120 produtores, com uma média de 2,3 hectares cada, num total de 400 ha de kiwi verde e 200 ha de amarelo.
Em 2011, “a PSA propagou-se por pomares existentes e alguns tiveram mesmo de ser cortados, sendo que outros que foram replantados só agora estão produtivos, quase ao fim de cinco anos, em vez dos três normais”, refere Fernão Veloso adiantando que em alguns pomares mais velhos o cancro afetou a qualidade e homogeneidade da fruta.
“No último ano o inóculo diminuiu, havendo uma maior resistência à doença, até porque os fatores climatéricos também ajudaram, não sendo tão adversos como em anos anteriores”, assim o responsável afirma: “à luz da realidade de hoje, vejo um certo otimismo, também porque fomos tomando medidas profiláticas e de controlo”.
Uma destas medidas é “a aplicação de tratamentos preventivos de cobre”, como adianta Fernando Ranito, responsável em Portugal da Comercial Química Massó, e igualmente referida pelo técnico da Frutas Douro ao Minho.
Num desdobrável sobre a doença, editado pela Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) em 2014, afirma-se que “não há, até ao momento, meios de luta curativos, pelo que as medidas preventivas, a observação dos primeiros sintomas e a destruição das plantas infetadas, são os meios mais efetivos para o controlo e contenção da PSA”, e adianta-se que se devem efetuar os tratamentos com produtos à base de cobre “na primavera, antes da rebentação, no outono, após a queda das folhas e sempre que as plantas apresentem feridas devido ao granizo ou ventos fortes”.
O responsável técnico da OP considera que “vamos ter de coabitar com a bactéria, mas já começamos a perceber que apesar da sua presença podemos ter boas produções, pelo que é controlável em termos do equilíbrio produção/doença”. Fernão Veloso explica que há pomares com sintomas mas que se mantêm em produção e há outros que dão negativo mas onde o cancro acaba por se manifestar. “Temos de nos manter muito atentos, fazer os tratamentos preventivos e os cortes só em condições de clima que não sejam propícios à propagação da doença e desinfetar o material de poda”, defende, salientando que “hoje também temos um outro auxiliar que é o material de multiplicação garantido, com passaporte sanitário”.
Minifúndio ajudou a travar propagação da PSA
A resposta das autoridades ao Cancro bacteriano do Kiwi foi relativamente rápida, o Plano de Ação Nacional de Combate à PSA do Kiwi foi publicado em maio de 2013 e “colaborámos com os nossos produtores na aplicação das medidas seguindo o protocolo e tem sido francamente positivo”.
Fernão Veloso salienta ainda que um dos fatores que considera ter sido importante para a menor proliferação da doença foi o facto de “não termos áreas contíguas de pomares, há muitos bosques pelo meio. São áreas de minifúndio de pomares mais dispersos, pelo que foi mais difícil a propagação da bactéria”.
O responsável lembra ainda que, no caso da sua OP, a produção não foi muito afetada, mesmo nos anos piores, “porque o foco de infeção são os pomares novos que ainda não estavam em produção e como conseguimos converter alguns, a nossa meta de atingir uma produção de oito mil toneladas de kiwi em 2016 deverá ser cumprida”, mas ressalva que “houve muitos produtores com grandes prejuízos, e, principalmente, atrasos no retorno do investimento, porque os pomares afetados, depois de reconvertidos, entram em produção só ao 5º ou 6º ano, em vez do 3º”.
Outra questão que Fernão Veloso não quer deixar de referir é que os produtores nacionais de kiwi devem preparar-se para uma sobreprodução deste fruto na Europa, principalmente com a forte entrada da Grécia no mercado. “Porque os gregos e também os espanhóis mas menos, apostaram na plantação de novos pomares quando o preço estava muito bom em 2012/2013 e a Europa tinha défice de kiwi, ao mesmo tempo que o Chile sofreu fortes geadas afetando a sua produção, e esses novos pomares estão a começar a entrar em produção e a Grécia pode vir a ser um grande produtor e, não esqueçamos que eles estão bem mais ‘no centro do Mundo’, pelo que Portugal tem de explorar os mercados de proximidade e de se diferenciar pela qualidade”.