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Gestão

Quinta da Alorna: Taxa de rotação chega aos 70%

Gustavo Caetano Quinta da Alorna

A Quinta da Alorna é uma grande propriedade ribatejana onde várias culturas compõem os negócios e a taxa de rotatividade chega aos 70%. Com uma gestão completamente profissional, os negócios têm crescido nesta casa ribatejana.

A Quinta da Alorna, em Almeirim, é uma típica casa agrícola portuguesa, com culturas variadas, que completam o ano agrícola e permitem a manutenção da faturação. A grande maioria das culturas são tradicionais, mas a empresa vibra com a produção vitivinícola. Nas suas diferentes componentes de atividade, o volume de negócios rondou os cinco milhões de euros, não havendo ainda dados relativos ao ano passado.

As contas da área total da área da propriedade não são óbvias. Em teoria são mais de 2700 hectares de superfície agrícola útil. Na realidade são 1900 hectares de floresta (800 pinheiro manso, 370 eucalipto e 350 sobro), 200 hectares de vinha e 550 hectares com diversas culturas – destes 300 são de regadio e 100 estão arrendados. Ora, estes 300 hectares de regadio permitem duas culturas, o que, na prática, lhes duplica a área, explica Gustavo Caetano, diretor de produção da Quinta da Alorna.

Em termos de solo, as zonas junto ao Tejo são de aluvião, há também parcelas arenosas de transição (onde efetua as rotações de culturas) e outras de charneca (floresta e vinha). O acesso à água é realizado, essencialmente, através de furos, bombeada por bombas elétricas.

Quinta da Alorna - trator

A primeira cultura do ano, ou seja, a primeira a ser colhida, é batata de consumo (sobretudo) e indústria, que sai entre março e maio.

Roda a vida no campo

A primeira cultura do ano, ou seja, a primeira a ser colhida, é batata de consumo (sobretudo) e indústria, que sai entre março e maio. A acompanhar vão cenouras, ervilha, fava e chicória. Em 2013 foi conseguida uma rotação de 70%, diz Gustavo Caetano.

A opção dos gestores da casa agrícola é de fazer cereais na primavera/verão. Em 2013 foi dado um grande destaque ao milho, onde houve uma clara aposta. No ano de 2013 foram cultivados 270 hectares de milho, o maior desde que “se deu a profissionalização da gestão da quinta”. Antes o recorde era de 220 hectares e verificou-se em 2011. Alterações no campo fizeram a área diminuir. O ‘palpite’ deu certo. “Tivemos o melhor resultado dos últimos 13 anos, em produtividade, que rondou as 14 toneladas por hectare”, conta Gustavo Caetano.

A vida é dinâmica e o mundo dos negócios roda mais depressa do que o planeta. Após más experiências com o cultivo do amendoim em Portugal (ver Vida Rural junho 2013), a Quinta da Alorna pensa retomar a produção em 2014.

O responsável pela lavoura da Quinta da Alorna não esconde o atrativo do cultivo do amendoim que chega depois do milho e entra em rotação com o tomate.

“Os últimos indicadores são positivos. São positivos desde que se indiquem melhores variedades e ciclos de ensaios. Podemos limar problemas, o que nos vai fazer olhar para a cultura de forma diferente”, refere.

O responsável pela lavoura da Quinta da Alorna não esconde o atrativo do cultivo do amendoim que chega depois do milho e entra em rotação com o tomate.

Gustavo Caetano salienta que os preços dos hortoindustriais têm estado mais ou menos estáveis nas últimas campanhas. “Temos trabalhado nisso. É mais sensato apostar em dar força às estruturas associativas. Reparamos que os preços estão mais estáveis, ainda que andem voláteis, porque com as organizações de produtores atenuamos as grandes diferenças”.

A floresta é aposta a continuar

Como se constata pela área, a floresta tem um peso significativo na atividade da empresa, que não escapou ao problema do nemátodo do pinheiro. Gustavo Caetano refere que, desde 2007, o Programa Nacional de Luta Contra o Nemátodo do Pinheiro (PROLUNP) “veio a limitar o pinheiro bravo. Como resultado desse abate começou a fazer-se este projeto de reflorestação com pinheiro manso e também aumento da área de montado”.

Após o corte de 2007, a Quinta da Alorna iniciou a reflorestação em 2011, ação que se desenrolou por 2012 e 2013, sendo que irá continuar este ano. O investimento implica um total que ronda os 500 000 euros.

A escolha do pinheiro bravo justifica-se na projeção de aumento de procura e vontade de exportar. “A produção tem sido pequena, porque não tinha expressão. A partir de agora vale a pena olhar para o negócio doutra forma”, refere o diretor de produção da Quinta da Alorna, que coloca o início do ciclo para mais de dez anos.

A parceria com o Grupo Portucel Soporcel justifica a manutenção do eucaliptal, mas a área manter-se-á estável. Os talhões são explorados rotativamente, conforme as idades e as qualidades dos cortes.

Gustavo Caetano recorda que o eucaliptal foi das primeiras decisões tomadas pela empresa que foi constituída para gerir, há 13 anos, o património agrícola da família Lopo de Carvalho.

O montado de sobro não é floresta que tenha peso tão significativo quanto as de outras espécies. Assim. A empresa vai olhá-la duma forma mais vasta.

“No sobro temos dois cortes, espaçado conforme o mercado”, em que a quantidade ronda as 20 000 arrobas (300 toneladas). “A área é para manter e para melhorar”, pensa-se na introdução de ovelhas, “mas está tudo em projeto”.

No total, a Quinta da Alorna tem 13 referências vínicas, que geram cerca de 30 referências. São muitas soluções, só possíveis para quem tem à disposição 18 castas (nove de cada cor).
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O emblema da casa

É de 200 hectares que saem os produtos que dão visibilidade à empresa. A empresa tem veia exportadora e no mercado nacional nota alguma diferença na mudança da designação da região demarcada de Ribatejo para Tejo. “No que respeita aos vinhos produzidos, 50% têm como destino o mercado nacional, os restantes 50% são exportados”.

Entre 2010 e 2012 foram arrancados cerca de 75 hectares de vinha e em 2012 e 2013 foram acrescentados 50 hectares. Os números enganam. Apesar de 25 hectares a menos, a capacidade de produção vai aumentar, as vinhas serão mais homogéneas e a qualidade superior, esperam os responsáveis da Quinta da Alorna.

O arranque das vinhas deu-se nos terrenos arenosos e em parte de charnecas, onde os trabalhos eram mais complicados e menos produtivos. A libertação desses espaços deixou campo para culturas de regadio.

Esta transformação do uso da terra melhorou o uso dos pivôs de rega em terrenos menos indicados para hortoindustriais. Os aparelhos seguiram para as areias, permitindo aumentar a área de rotação anual.

No total, a Quinta da Alorna tem 13 referências vínicas, que geram cerca de 30 referências. São muitas soluções, só possíveis para quem tem à disposição 18 castas (nove de cada cor).

Em termos de importância, por variedade, nas castas brancas, a lista é encabeçada pela Arinto (22 hectares), seguida pelas Fernão Pires (20), Chardonnay (11), Moscatel de Alexandria (6), Verdelho (3), Viognier (3), Alvarinho (3), Sauvignon Blanc (3) e Marsane (2).

A lista das castas tintas é liderada pelas Trincadeira Preta (26 hectares) e pela Tinta Miúda (26), seguidas pelas Alicante Bouschet (23), Castelão (21), Touriga Nacional (20), Cabernet Sauvignon (13), Tinta Roriz (Aragonês – 10), Syrah (5) e Touriga Franca (3).

Gustavo Caetano Quinta da Alorna em entrevista

Gustavo Caetano, Diretor de Produção da Quinta da Alorna

Continuar a investir

A Quinta da Alorna tem vindo a investir em modernização e não apenas através de fundos do PRODER. As apostas vão para máquinas tecnologicamente mais avançadas e com elevado grau de informatização e, muitas delas, servindo-se de GPS.

A vindima é mecanizada e houve recentemente, salienta Gustavo Caetano, “todo um esforço de modernização”, que durou três anos.

Este responsável da empresa esclarece que os investimentos são feitos em ciclos de seis a oito anos, quando se dá o retorno do capital.

“Nos últimos quatro anos, grosso modo, investimos 1,5 milhões de euros. Temos de arrefecer um pouco. Estamos à espera da aprovação dum projeto do PRODER, já 95% executado, faltando só a contribuição de 400 mil euros. Trata-se dum equipamento operacional, com sistema de rega, monitorização e painéis solares.

No total, há 0,5 hectares de painéis solares, dispersos por três parques. Não é para ser negócio, é para ajudar nas despesas com a energia, explica Gustavo Caetano. O objetivo primeiro é a autossuficiência, mas até lá a Quinta da Alorna vai vendendo energia que gera, compensando na fatura.

Resumindo, a opção passa por ser autossuficiente, mas nos picos de consumo vender eletricidade. Atualmente têm instalados 250 kW de potência (400 MW anuais). Esta produção, resultante dos painéis solares instalados na quinta, representa uma redução anual de 80 t de carbono.

“Trabalhamos muito com casas da região a quem compramos azeite. É para fechar portefólio, que começa no vinho. É mais marketing”

Pequenos negócios

Muitas casas ribatejanas têm o seu ferro e a Quinta da Alorna não é exceção. Porém, os cavalos são tratados em parceria. No picadeiro mandam Filipe e Sofia Canela Pinto.

O azeite é outro produto que a Quinta da Alorna faz em parceria. “Temos meia dúzia de hectares. Exploramos, mas é irrelevante”. Mas o negócio deste óleo, com marca própria, tem um papel estratégico: ajudar a vender vinho.

“Trabalhamos muito com casas da região a quem compramos azeite. É para fechar portefólio, que começa no vinho. É mais marketing”.

Artigo publicado na revista VIDA RURAL de fevereiro de 2014