Em reportagem na zona de Alqueva, os repórteres da VIDA RURAL ouviram muitas vezes os lamentos dos produtores afirmando que ‘não há plantas de oliveira e amendoeira em Portugal, se queremos plantar grandes áreas temos de as ir buscar a Espanha’. Falámos com viveiristas e importadores e… já não é assim: já há oliveiras e amendoeiras disponíveis em quantidade, bem como novos clones de algumas videiras.
O diretor-geral da consultora O Trevo e dos viveiros Oriana, em Beja, diz-nos que começou já a trabalhar em parceria com o viveiro InProPlant de Coimbra que “nos fazem as variedades abertas de amendoeira, enxertam-nas e nós engordamo-las”. Daniel Montes adianta ainda que em breve irá representar em Portugal um viveiro catalão “pelo que iremos ter também as variedades de amendoeira do IRTA”, o instituto de investigação agroalimentar da Generalitat da Catalunha.
“Estas serão plantas já mais desenvolvidas, pelo menos com um ano de idade”, acrescenta o responsável. Daniel Montes assegura que com estas duas formas “conseguimos ter plantas disponíveis para dar resposta a necessidades mesmo de grandes quantidades de plantas” e salienta: “nesta altura devem existir cerca de 5.000 hectares de amendoal na zona de Alqueva e a tendência ainda é de crescimento, embora não ao mesmo ritmo dos últimos anos, porque o preço também já ajustou em baixa”.
Estas parcerias e representações que a consultora agrícola O Trevo fez foram precisamente a pensar nesta tendência. A empresa também tem uma colaboração com a Consulai para várias plantações e projetos, nomeadamente a implementação de pomares chave-na-mão.
O viveiro Oriana produz ainda outras fruteiras, nomeadamente romãzeiras e figueiras, mas também várias espécies florestais como sobreiro, azinheira e pinheiro.
Amendoeiras com seis meses de antecedência
Falámos também com António Batista dos Santos, um dos sócios da InProPlant em Coimbra, que foi criada em 2013 pela junção de três viveiros anteriores e já com muitos anos de experiência no mercado. O responsável garante-nos que “se os agricultores dizem que não há plantas em Portugal é porque não procuram bem, nós temos” e adianta: “amendoeiras, de várias variedades [inclusive para amendoal superintensivo], temos sempre disponíveis cerca de 50 a 60.000 plantas e se encomendarem com cinco a seis meses de antecedência, podemos fazer 100.000 ou mais”.
António Batista dos Santos diz ainda à VIDA RURAL que “também podemos fazer variedades mais recentes, o cliente tem é de pagar os royalties” ao dono da variedade.
No caso das oliveiras, o sócio da InProPlant afirma que “temos em stock cerca 20.000 plantas, mas podemos fazer as que encomendarem, temos condições e espaço para isso”, só que as oliveiras demoram um pouco mais a fazer, cerca de um ano, se falarmos de variedades para olivais intensivos e superintensivos, como a Arbequina e Cobrançosa. Em algumas variedades mais tradicionais, como a Galega, pode demorar ainda mais algum tempo.
A InProPlant está também a apostar na investigação de novas variedades e formas de propagação, tendo criado uma associação com a Universidade de Coimbra (a Associação UC InProPlant – Investigação, Desenvolvimento Tecnológico e Internacionalização) com o intuito de dar resposta aos problemas existentes na fruticultura nacional. É um projeto que aposta na transferência de conhecimento efetivo para os viveiristas, garantindo a introdução no mercado de genótipos certificados, de proveniência conhecida e com elevada qualidade fitossanitária.
As instalações da UC InProPlant situam-se no Pólo II da Universidade de Coimbra e incluem um laboratório dedicado a investigação e micropropagação de plantas; estufas para aclimatação e crescimento de plantas e campos de plantas-mãe de material certificado.
“Quer um milhão de oliveiras? Nós fazemos”
Já a Improfort apostou em representar em Portugal vários viveiristas e empresas espanholas e italianas, disponibilizando aos produtores nacionais várias variedades de oliveiras, amendoeiras e videiras. “São plantas de qualidade que cumprem prazos e os requisitos técnicos, científicos e fitossanitários”, salienta o gerente da empresa, assegurando que a quantidade de plantas não é problema “desde que encomendem, como aliás também têm de fazer em Espanha”.
Mário Pelicano refere que “temos amendoeiras de diversas variedades e também porta-enxertos recentes, tudo pronto a ser instalado”, disponíveis sob encomenda com seis meses de antecedência e podemos fazer 100.000 plantas ou mais. Diz-nos que fazem a instalação de alguns pomares mas, “somos principalmente fornecedores de plantas”.
Quanto às oliveiras, aí a quantidade a disponibilizar até pode ser mais: “quer um milhão de oliveiras? Nós fazemos”, também sob encomenda com cerca de seis meses de antecedência.
No caso da videira, sobre a disponibilidade de diversos clones da mesma casta, Mário Pelicano frisa que “somos representantes de um viveiro italiano que é o maior viveiro mundial de videiras”, por isso também há muitas variedades e clones à escolha.
Novos clones de algumas castas
Precisamente sobre a preocupação – que alguns produtores nos manifestaram – de estarem disponíveis apenas uma ‘meia-dúzia’ de clones de algumas variedades e de se estar a perder diversidade, Jorge Böhm, dos Viveiros Plansel, em Montemor-o-Novo, conta-nos que “em colaboração com a Ateva, a Viticartaxo e a Associação de Viticultores de Alenquer estamos a fazer seleção de novos clones de várias castas nacionais, a partir de vinhas antigas menos produtivas”, para identificar clones mais adaptados à atual aposta de mais qualidade e menor quantidade.
O comendador explica que “nos últimos anos tem havido muitos produtores, no Alentejo e não só, a apostarem em castas francesas porque as nacionais, como a Touriga Nacional, a Alicante Bouschet, a Trincadeira e a Aragonês, entre outras, se têm revelado demasiado produtivas e com menor qualidade, porque desde os anos 90 que foi autorizada a rega no sul e a viticultura hoje, aqui na zona, é quase toda regada”.
O responsável adianta que “apesar de este ano a plantação de videiras se ter reduzido pela primeira vez em muitos anos no programa Vitis, fizemos também uma nova seleção de castas francesas”.
Jorge Böhm refere que os Viveiros Plansel estão a apostar cada vez mais na videira “porque controlamos melhor o mercado, além de que a cada 20 anos as plantas têm de ser reconvertidas, enquanto as oliveiras podem durar 50 ou 100 anos”. Continuam a ter oliveira mas em pequena quantidade, uma vez que “a procura baixou muito em relação ao que se verificou no início do século XXI, agora deve rondar os 5% do que era e por isso para nós não é rentável, porque temos de fazer uma estufa com 70 a 80.000 plantas e precisamos de garantia de venda. Em Espanha fazem milhões, por isso 100 ou 200.000 plantas para eles não é significativo”.
Também Valter de Sousa, gerente dos Viveiros Valter em Viseu, considera que não é possível concorrer com os viveiros espanhóis em termos de quantidade e preço. Isto porque “os agricultores hoje fazem tudo por projetos, com financiamento dos fundos europeus e só quando os projetos estão aprovados avançam com as plantações, mas nós precisamos de dois anos no terreno para fazer as árvores, ninguém vai fazer 100 ou 200.000 plantas sem garantia de compra”… Mas, acrescenta, “para os espanhóis 50.000 plantas representa quase o mesmo que 5.000 cá, os volumes deles são muito superiores e conseguem dar resposta muito mais rapidamente”.
O gerente adianta, todavia, que se fizerem contrato e nos encomendarem as plantas com a antecedência necessária também podemos fazer grandes quantidades, mas isso é raro, habitualmente fazemos sempre uma quantidade que sabemos que vamos vender”.