Os cortes de água, anunciados pelo Governo, para utilização agrícola na região algarvia, vão colocar em risco 95 mil toneladas de frutícolas e levar uma perda estimada de 134 milhões de euros em 2025.
São dados apresentados pela Comissão para a Sustentabilidade Hidroagrícola do Algarve (CSHA), obtidos a partir de uma primeira análise ao impacto económico e ambiental das restrições ao fornecimento de água no Algarve.
A análise determinou que poderá existir uma quebra na produção de 88 000 toneladas de laranjas, 6 500 toneladas de abacates, 850 toneladas de frutos vermelhos, cerca de 1 milhão de garrafas de vinho e toda a produção ornamental, no espaço de um ano.
De acordo com o comunicado, a CSHA estudou a diminuição de rendimento de setores-chaves da agricultura algarvia, nomeadamente, a produção de citrinos, de abacates, de frutos vermelhos, o setor vitivinícola e ainda a produção de plantas ornamentais e de animais.
Segundo dados da já extinta Direção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve existem:
- 22 000 hectares de regadio,
- 10 000 dos quais dependem de águas superficiais
- Estão a regar 7 644 ha
- Divididos por 6 000 ha no Sotavento (dos 8 600 abrangidos por este perímetro de rega)
- 1.644 ha no perímetro de Silves, Lagoa e Portimão (dos 2 600 totais).
- Estão a regar 7 644 ha
- 10 000 dos quais dependem de águas superficiais
No caso do perímetro de rega da Bravura, que abrange 1 747 ha – sendo a área beneficiada de 837 ha -, a agricultura não recebe água pelo terceiro ano consecutivo, o que acontece já nos dias de hoje, segundo a CSHA.
Com as novas medidas, o perímetro de rega do Sotavento terá um corte de 72% e os perímetros de rega do Barlavento terão restrições entre os 65% e os 100% (Silves, Lagoa e Portimão e Bravura, respetivamente).
Para produtores instalados nestas áreas e dependentes de águas superficiais, a Comissão admite que “o impacto das medidas será enorme, uma vez que estão em causa as florações que darão origem aos frutos a colher na campanha 2024/2025. Sem água para fazer uma boa floração, vingamentos e passar o calor do verão, apenas se conseguirá assegurar a sobrevivência das árvores, comprometendo toda a produção”.
O impacto nos setores

Relativamente ao setor dos citrinos, a CSHA estima que os cortes de água possam resultar numa diminuição de 16% da produção, com um impacto direto na quantidade de fruta, na alteração da forma do fruto e, possivelmente, até na redução da percentagem de sumo em cada fruta.
De acordo com o comunicado, a Comissão admite que as medidas do governo podem comprometer 1.330 hectares de abacates algarvios, mais de metade da área de plantação dos produtores analisados e destaca duas consequências:
- A gestão deficitária de mais de 220 trabalhadores permanentes e 700 sazonais;
- A perda de competitividade relativamente a outros países, com a exportação de abacate a representar 90% do negócio.
Já os produtores de frutos vermelhos antecipam para uma quebra de 18% na produção, com as restrições de água a prejudicar o funcionamento regular das estufas, onde trabalham cerca de 1350 profissionais permanentes e 3500 sazonais, refere o comunicado.
O setor vitivinícola, com representação na CSHA de 70 vinicultores e 55 produtores de vinho, afirma que os cortes de água possam levar a um estado de seca moderada e a uma quebra de produção na ordem dos 60%, com a produção de vinhos de menor qualidade.
De acordo com o comunicado, o cenário mais grave está no ramo das ornamentais (flores), que estima uma quebra total do setor no próximo ano. A falta de água prejudicará por completo um produto onde se vende a “beleza” e o setor aponta para o desperdício de todas as flores dos 160 hectares, com um prejuízo de 30 milhões de euros.
Além deste setor, o comunicado também refere que, em relação à produção animal e com as medidas anunciadas, fica em risco a manutenção de toda a atividade pecuária do Algarve, que são atualmente cerca de 24 mil animais (bovinos, ovinos e caprinos), diz a CSHA.
A Comissão salienta ainda que “o cenário apresentado poderá agravar caso não chova a estimativa do Governo para os próximos meses” e reforça que “os cortes de 25% do fornecimento de água para a agricultura é uma mera operação de cosmética”.
E continua: “Em alguns casos, a redução pode chegar a 72%, com impactos agora evidentes para o ambiente e economia da região. A Comissão reitera que não é contra medidas que procuram controlar um evidente problema hídrico do Algarve, uma questão urgente na região que se arrasta há décadas sem soluções concretas. A agricultura não pode é continuar a ser considerada o parente pobre da economia algarvia”.
A Comissão para a Sustentabilidade Hidroagrícola do Algarve agrupa 120 entidades e agricultores algarvios.