Enganei-me redondamente, a peste saltou para o reino vegetal e eis que aparecem pepinos assassinos. Nem mais, nem menos, pepinos. E espanhóis, perdão, de origem desconhecida, desculpem, afinal são genericamente saladas, retificação, não sabemos bem de onde isto vem. Resultado, o intrépido consumidor deixou de comprar legumes. Pepinos e curgetes deixaram pura e simplesmente de se vender (só em Portugal o consumo caiu 90%) e nos outros vegetais para lá se caminha.
Neste momento, os produtores nacionais de hortícolas estão de mãos na cabeça a contar os prejuízos: 2 milhões de euros só numa semana.
Os países produtores, encabeçados por Espanha e Portugal, já reclamam indemnizações à Alemanha pelos prejuízos causados ao fazer circular a acusação de que a epidemia provocada pela bactéria E.coli, que matou 17 pessoas no país da senhora Merkel, tinha como origem pepinos espanhóis. Na dúvida, um dos ‘PIGS’ que deve ter culpa.
A sobranceira podia ser só irritante mas, neste caso, para além de injusta, pode arruinar milhares de agricultores europeus que deixaram de ter a quem vender a sua produção.
Mas esta nova ‘crise’ alimentar tem provocado situações no mínimo caricatas em alguns supermercados. Um dos principais grupos de distribuição nacionais, onde por acaso, ou não, é difícil encontrar produtos hortofrutícolas portugueses, apesar da publicidade enganosa que fazem a esse propósito, chegou ao ridículo de rasurar a indicação de origem dos pepinos no linear. Onde se lia Espanha passou a ler-se Portugal. Num segundo, o tempo que demorou a riscar a palavra, os pepinos mudaram de nacionalidade e passaram a ser portugueses. Um atestado de estupidez passado aos seus clientes, os mesmos que questionam porque é que há cartazes que anunciam morangos nacionais mas nas prateleiras só encontramos caixas com indicação de proveniência espanhola. E quando questionados argumentam: ‘deve ter sido um engano’.
Que os alemães tentem passar a perna aos desgovernados países do Sul até entendemos. Eles são ricos e acabaram de nos passar um cheque. Mas que empresas portuguesas, que nada fazem para estimular a produção nacional com a justificação de que os produtos importados são mais baratos, se aproveitem desta situação é indecoroso. O problema português, de fundo, é que não gostamos de nós e não costumamos responsabilizar quem nos faz mal. É por isso que por estes dias, enquanto a Europa discute o pepino gate, passámos a ser um protetorado do FMI.