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Abóbora

Abóbora conquista região Oeste

abóbora Oeste

A produção de abóbora na região Oeste tem vindo a crescer fortemente nos últimos anos, tendo rondado as 45 mil toneladas em 2013, e este ano deverá aumentar. A exportação ronda os 70%, mas também tem vindo a subir, com os agricultores a apostarem principalmente em novas variedades, como a Butternut e a Musquée de Provence.

“Nos últimos cinco anos a produção de abóbora tem vindo claramente a aumentar no concelho da Lourinhã, o que mais produz, e em toda a região Oeste”, afirma o diretor-geral da Louricoop – Cooperativa de Apoio e Serviços do Concelho de Lourinhã. António Gomes adianta que “a aposta é, principalmente, em variedades diferentes, que não existiam em Portugal, como a Butternut e a Musquée de Provence e também a Okaido”, que se destinam maioritariamente para exportação. Mantém-se, todavia, a produção de abóbora-menina, Gila e Carneira.

A Louricoop fez um inquérito na campanha de 2013 e os resultados apontaram para “uma produção em cerca de 1500 hectares e temos indicação que em toda a região Oeste rondou as 45 mil toneladas”, diz-nos o responsável da cooperativa, que tem duas Organizações de Produtores (OP), de batata e de hortícolas. “Este ano a produção de abóbora vai aumentar, porque só no nosso concelho deverá ocupar cerca de 2000 hectares”, acrescenta António Gomes, referindo que nos concelhos de Peniche, Torres Vedras, Alcobaça e Caldas da Rainha, a abóbora tem igualmente vindo a ter um peso maior na produção hortofrutícola.

Reconhecendo a crescente importância da cultura da abóbora no concelho a Câmara Municipal da Lourinhã quer obter o estatuto de Capital da Abóbora para a vila, estando mesmo já a organizar o Festival da Abóbora da Lourinhã e Atalaia, de 31 de outubro a 2 de novembro deste ano, onde terão lugar algumas sessões técnicas e debates, conduzidos pela Associação Interprofissional de Horticultura do Oeste (AIHO) e pela Louricoop.

Exportação é a aposta

O aumento do consumo nacional, mas principalmente a possibilidade de exportar para mercados europeus, muito consumidores e deficitários, como Reino Unido e França, entre outros, levou os agricultores a apostarem neste produto.

Luís Lourenço

Luís Lourenço

O diretor-geral da Louricoop diz que a taxa de exportação ronda os 70%, mas a VIDA RURAL falou com dois produtores e a Malaquias & Malaquias exporta 90% da sua produção de abóbora (cerca de 550 t) enquanto Luís Lourenço vende para fora tudo o que produz e que compra a agricultores do Oeste e do Ribatejo (num total de cerca de 2500 t).

António Gomes salienta que, como o principal destino é a exportação, o aumento de produção tem sido quase exclusivamente com variedades externas. “A produção de abóbora-menina tem apostado principalmente no mercado dos hipermercados, sendo vendida já cortada à talhada, enquanto os produtores de Gila e Carneira mantêm a produção, que se destina à agroindústria, de doçaria e fruta cristalizada, respetivamente”.

Adquire as sementes a várias empresas, trabalhando com duas variedades, uma mais precoce, e explica-nos que semeia “em abril nas zonas mais altas das parcelas e em junho nas mais baixas”, utilizando charcas e canais, feitos por si, para a rega.

A colheita decorre de julho a setembro, mas a comercialização prolonga-se de julho a fevereiro. O filho, João Lourenço, responsável pelo armazém, afirma que a abóbora tem boas capacidades de conservação, por isso “mantemo-las em armazéns com tetos isolados e com ventilação, para manter temperaturas frescas”.

João Lourenço, também responsável pelo embalamento, adjacente a um dos armazéns da empresa, refere que as Butternut são divididas em quatro calibres, sendo o de 500-900 g o preferido, embora o de 800-1200 g também tenha muitos clientes. Os outros são de 1200-1400 g e de 1400-1700 g. Este último quase todo e acima disso mesmo tudo se destina à indústria. O responsável adianta que “há dois anos que vendemos para a Monliz, em Alpiarça, para fazer cubos e congelar, mas só querem uma determinada variedade que tem 92% de extrato seco”. João Lourenço acrescenta que em 2013 cerca de 200 toneladas foram vendidas para a indústria.

A empresa de Luís Lourenço tem cerca de dez colaboradores, mais cinco que fazem a colheita. Trabalha principalmente com a Emergosol, como intermediário da venda para supermercados em Inglaterra e Irlanda, mas também França, Suíça e Holanda.

A variedade Nutternut é uma das mais requisitadas pelo mercado

A variedade Nutternut é uma das mais requisitadas pelo mercado

Mecanizar a colheita

A empresa familiar Malaquias & Malaquias tem vindo também a apostar na abóbora, mas mantém a produção de outros produtos, como nos conta Pedro Malaquias: “no inverno fazemos 100 hectares de hortícolas, como couve coração (cerca de 80%), couve lombarda, couve-flor e brócolo”.

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Vende cerca de 60% para exportação, através de um intermediário (tal como com as abóboras), tratando a empresa do embalamento, e os 40% do mercado nacional “vão diretamente para a Sonae”.

A empresa, que tem cerca de dez colaboradores, produz ainda cerca de um hectare de meloa Gália, que vende para um mercado abastecedor do Porto.

Quanto à produção de abóbora, Pedro Malaquias diz-nos que produz cerca de 20 hectares: 10 ha de Butternut (cerca de 250 toneladas) e 10 ha de Musquée (cerca de 30 toneladas). “Vendemos apenas em torno de 10% para o mercado nacional, para o mesmo mercado abastecedor do Porto, e o resto é exportado através de um intermediário”, revela.

O produtor salienta que tem vindo a apostar cada vez mais neste produto porque “o consumo tem vindo a crescer, bem como a produção aqui na zona”.

Pedro Malaquias

Pedro Malaquias

A Malaquias & Malaquias tem capacidade de armazenamento para cerca de 600 toneladas de abóbora, em armazém com teto de poliuretano e ventilação e o agricultor adianta que “fazemos toda a colheita das Butternuts em agosto e a da Musquée prolonga-se até meados de setembro, embora esta variedade possa ser colhida cerca de 50% madura (laranja)”.

Este ano a colheita ainda vai ser só manual mas Pedro Malaquias explica que “na próxima campanha já vamos preparar tudo para podermos colher e colocar logo num trator com uma alfaia que tem uma passadeira e as coloca numa palote”.

A Butternut destina-se principalmente ao mercado inglês e a Musquée de Provence a França e outros países europeus.

COMO PREVENIR PRAGAS E DOENÇAS

A abóbora tem boas capacidades de conservação, mas há algumas pragas e doenças que têm surgido, por isso a AIHO emitiu algumas medidas preventivas que aqui resumimos.

  • Pragas identificadas em abóbora armazenada: Afídeos (Dysaphis apiifolia sp e Dysaphis crataegi sp); Cochonilhas; e Cochonilha-algodão.
  • Fungos identificados em abóbora armazenada como causadores de podridão húmida (Fonte: Escola Superior Agrária de Santarém, 2012): Alternaria; Cladosporium; Collettotrichum; Fusarium; Penicillium; e Rhizopus.

No Campo:

Controlo eficiente de pragas e doenças no campo, principalmente afídeos e oídio.

  • Medidas culturais – Realização de rotações; Implementação de ruas intercaladas nas parcelas cultivadas com abóbora de forma a facilitar a entrada de máquinas no terreno; Controlo da fertilização e rega; Colher as abóboras num estado de maturação adequado; Durante a colheita o corte do pedúnculo da abóbora deve ser realizado com pelo menos um dia de antecedência; Evitar que as abóboras sofram lesões durante a colheita, transporte e armazenamento.
  • Medidas fitossanitárias – Realização atempada dos tratamentos fitossanitários sempre que necessário (Consultar lista de produtos autorizados por inimigo; Perante um ataque de afídeos na fase final da cultura, tratar de preferência com um inseticida sistémico aplicado duas a três semanas antes da colheita; Aplicar o produto em toda a cultura e não apenas sobre as abóboras).

No Armazém:

  • Desinfetar as instalações alguns dias antes do armazenamento com produtos autorizados para o efeito pela Direção-Geral de Saúde – DGS (ex: Actibiol Flow e Fendona – s.a. alfa-cipermetrina);
  • Preencher o local de armazenamento de forma gradual para evitar subidas drásticas de temperatura (máx.: 10% ao dia);
  • Para ter um bom arejamento e a facilitar o tratamento e acompanhamento em armazém – não fazer pilhas com mais de três frutos de altura; evitar o contacto das abóboras armazenadas com o solo ou outras superfícies húmidas; implementar corredores intercalados que permitam alcançar o centro das pilhas; promover a circulação de ar através de aberturas próximas da base conjugadas com aberturas no topo das instalações;
  • Vigiar as abóboras armazenadas regularmente e eliminar as podres;
  • Monitorizar os afídeos, através da colocação de armadilhas amarelas para a captura de formas aladas.

Artigo publicado na edição de setembro de 2014 da revista VIDA RURAL