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Nutrição

Beringela: variedades púrpura e branca

beringelas VR

O consumidor moderno procura constantemente maximizar a obtenção dos benefícios nutricionais que podem advir do consumo dos alimentos. Por um lado, verificamos que é crescente o número de alimentos/produtos alimentares ditos funcionais no mercado. Por outro lado, parece existir um aumento na procura de alimentos diferentes, por exemplo, na dimensão, e com a tendência da baby food, na cor, caso do tomate preto e a beringela branca, na composição, como os superalimentos, entre outros. Desta forma, é clara a maior necessidade em comunicar, de forma eficiente e honesta, com o consumidor e fornecer-lhe o apoio científico que comprove os benefícios nutricionais alegados nestes “novos” produtos.

A beringela (Solanum melongena L.), vegetal originário da Índia, pertencente à família Solanaceae, é considerada um alimento funcional. E o que é um alimento funcional? Não existe uma só definição. Segundo a European Food Safety Authority (EFSA) um alimento funcional é aquele alimento, ou aquele composto presente no alimento, com propriedades que promovem benefícios para além dos benefícios nutricionais. Esta é muito semelhante à definição dada pelo International Food Information Council. Assim, um alimento funcional acaba por ser um alimento que desencadeia efeitos metabólicos e/ou fisiológicos e/ou benéficos para a saúde e é seguro para a saúde.

A beringela é um vegetal rico em água, fibra e sais minerais (cálcio, fósforo, potássio e magnésio) e pobre em proteínas. As substâncias que o tornam um alimento funcional são os seus compostos bioativos, nomeadamente as fibras, os polifenóis, ou compostos fenólicos e as saponinas.

beringela branca

A sua composição em fibra tem especial interesse pelo seu efeito hipocolesterolemiante. A fibra é o componente do alimento que não é digerido pelo Homem devido à ausência de enzimas específicas ou à incapacidade das enzimas presentes no trato gastrointestinal de completarem a digestão. Existem dois tipos de fibra, a insolúvel e a solúvel, ambas presentes na beringela e em quantidade, aproximadamente, igual. A fibra insolúvel fornece a massa necessária para a ação peristáltica dos intestinos. A solúvel tem a capacidade de se ligar à água e formar um gel no lúmen intestinal acabando por diminuir a absorção de lípidos e aumentar a excreção dos ácidos biliares. A beringela crua possui 1,5 g de fibra por 100 g de peso cru e 1,6 g por 100 g de grelhado.

No entanto, a redução do colesterol não deverá dever-se só às fibras, mas também a outros componentes da beringela. A redução do colesterol plasmático, por exemplo, pode estar relacionada com a vitamina B3 (niacina). Já a do colesterol tecidual deverá estar relacionada com o efeito antioxidante sobre as lipoproteínas de baixa densidade (LDL) dos antioxidantes da beringela como a vitamina C. Esta parece “varrer” as espécies reativas de oxigénio e nitrogénio e produzir um efeito positivo porque, indiretamente, aumenta a presença de vitamina E e glutationa nas membranas celulares.

As antocianinas, compostos fenólicos com função antioxidante, são as responsáveis pela coloração púrpura da beringela. Será esta a razão para que o maior consumo de beringela esteja centralizado na variedade púrpura?

“As saponinas estimulam o coração e podem ser encontradas em muitos vegetais para além da beringela. São estes os compostos responsáveis pela formação de espuma quando confecionamos a “água” ou infusão de beringela.”
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É importante perceber que os compostos fenólicos não se encontram só na pele da beringela, mas também na polpa. Assim, podemos pensar que poderá ser interessante consumirmos também outras variedades com também a clara, ou branca. Teríamos vantagens, no mínimo, na maior variedade de cores numa refeição por exemplo. Ainda, um estudo publicado no Food and Chemical Toxicology revelou que a quantidade total de antioxidantes é superior na variedade púrpura, mas muito semelhante à variedade branca, já a verde será a que terá menos.

As saponinas estimulam o coração e podem ser encontradas em muitos vegetais para além da beringela. São estes os compostos responsáveis pela formação de espuma quando confecionamos a “água” ou infusão de beringela.

A toxicididade da beringela é também alvo de investigação. Não existem estudos que comprovem que o seu consumo, pela presença de glicoalcaloides, em cru, seja nocivo, referem existir toxicidade associada. No entanto, a quantidade que teria de ser ingerida seria muito superior à que tendencialmente é a humana.

Existem vários estudos relativos à eficácia da ingestão de beringela, quer na sua forma crua, quer em farinha, quer em infusão, na redução dos níveis séricos de colesterol LDL e na perda de peso em animais e em humanos. No entanto, nenhum é forte o suficiente para se poder afirmar que esta tem tais benefícios nutricionais. No entanto, este vegetal deve ser incluído na nossa alimentação, independentemente da sua variedade, já que os seus constituintes têm evidência científica comprovada. O seu papel antioxidante é claro, assim como a fibra é hipocolesterolemiante. Importante referir que esta deverá preferencialmente ser consumida confecionada, por exemplo, grelhada, pelo seu maior teor quer em fibra quer em compostos fenólicos.

Dica para o produtor

Um estudo publicado no Journal of Sciences and Agriculture revelou que o tratamento da beringela com etanol é uma abordagem eficaz para a aparência fresca da beringela. Este tratamento aumenta a “vida de prateleira”, ou vida útil, da beringela e não tem efeitos quer na quantidade de compostos fenólicos quer na integridade da pele da beringela.

Artigo publicado na edição de maio de 2015 da revista VIDA RURAL