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Ciência hortícola para produzir mais e melhor comida

Ciência hortícola para produzir mais e melhor comida

As mais recentes investigações e inovações mundiais em termos de horticultura apresentaram-se em Lisboa no 28º Congresso Internacional de Horticultura. Durante a assembleia-geral da Sociedade Internacional de Ciência Hortícola, António Monteiro, do ISA, foi eleito presidente da instituição.

“Um Congresso excepcional! Com mais participantes e mais variedade de temas, além de oportunida-des para fazer contactos”, considerou Norman Looney, presidente cessante da ISHS. Durante os quatro dias de trabalhos, os mais de 3200 participantes de 110 países discutiram cerca de 5000 apre-sentações (orais ou em posters) e ouviram vários oradores convidados sobre os mais diversos temas ligados à investigação na área da horticultura (hortícolas, frutícolas e ornamentais).

Cerca de 750 congressistas puderam também tomar contacto directo com a realidade da horti-cultura portuguesa e espanhola (os dois países organizadores do evento) em 13 visitas técnicas pós-congresso, de um, dois ou três dias.

 

Na abertura, o ex-Presidente da República Jorge Sampaio, na qualidade de Alto Representante das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações, exortou os horticultores a aumentarem a produ-ção para ajudar a acabar com a fome. “Vocês podem aumentar os esforços para fazer crescer a produção agrícola a fim de superar a fome e incrementar a segurança alimentar. Podem fazê-lo como indivíduos mas também como uma associação global”, afirmou.

Jorge Sampaio salientou ainda que no século XXI a “disponibilidade e o acesso à comida continua a ser um desafio global (…) e a horticultura pode ajudar a construir um mundo mais justo”.

 

O ministro da Agricultura, António Serrano, também presente na abertura do evento, afirmou à margem do encontro que este era um congresso “muito importante” para Portugal. Uma impor-tância que se revelou ainda maior com a eleição do co-presidente português do IHC Lisboa 2010, António Montei­ro, para presidir à ISHS, na assembleia-ge­ral da sociedade que decorreu durante o Congresso.

Para António Monteiro, o novo cargo tem importância para a horticultura nacional porque “é um sector que representa mais de 50% do Produto Bruto Agrícola, numa altura em que o conhe-cimento científico é fundamental para a inovação”.

 

“Ter um português à frente da ISHS pode ser um contributo importante para a nossa horticultu-ra”, disse

O professor catedrático do Instituto Superior de Agronomia (ISA), de 58 anos, foi presidente da Associação Portuguesa de Horticultura e do Conselho Científico do ISA, entre outros cargos.

 

A ISHS nasceu em 1959 e reú­ne mais de sete mil membros de 150 países, sendo a principal associação mundial de cientistas na área da horticultura.

Inovações ao serviço da produção

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Todos os trabalhos e temas discutidos no Congresso estão já ou destinam-se a ser aplicados na produção. A inovação tecnológica foi um dos temas em destaque e os participantes num dos colóquios puderam ficar a par de novas tecnologias e sistemas que estão a ser testados, como por exemplo a utilização de veí­culos robotizados com vários sensores e equipamentos de medi-ção diversa e uma câmara wireless que se move pelo meio dos campos (experiência em vinha) e permi-te com um só ‘carrinho’ recolher múltiplas informações de toda a parcela, apresentado por George Kantor, da Carnegie Mellon University (EUA).

Inovadoras são também as ‘fábricas de plantas’ que Toyoki Kozai, trouxe da Universidade Chiba no Japão, e que pode revolucionar a produção de ‘baby leaf’ levando-a para junto do consumidor. Estes Sistemas Fechados de Produção de Plantas (CPPS, a sigla inglesa) já são utilizados em mais de 100 locais no Japão e permitem a produção de pequenas plantas em sistemas fechados com luz arti-ficial, etc. com enorme eficiência de recursos e rentabilidade. O investigador explicou que, por exemplo, numa área cerca de 480?m2 se conseguem produzir em torno de dez milhões de plantas por ano.

As alterações climáticas e o uso da água, bem como os efeitos das mudanças em várias culturas (como a vinha, entre outras), quais as plantas mais resistentes e formas de tornar outras mais resilientes foram temas abordados em vários simpósios no Congresso.

Os esforços dos investigadores para encontrarem formas de reduzir os pesticidas mereceram tam-bém um colóquio específico no IHC Lisboa 2010. David Skirvin, da University of War­wick (Reino Uni-do) fez uma comunicação sobre o uso de modelos em plantas vir­tuais que estão a ser usados para testar como as plantas reagem à redução deste ou aquele produto, salientando que a detecção o mais cedo possível de qualquer problema na planta é meio caminho andado para se poder resolver sem grandes intervenções químicas.

Por seu lado, John Scott, da Florida University (EUA) falou dos resultados que tem conseguido com vários anos de pesquisa para encontrar diversas variedades de tomate resistentes às princi-pais doenças que afectam esta cultura e Wayne Wilcox, da Cornell University, apresentou um estudo sobre o efeito da luz solar no oídio da vinha.

Estes são apenas alguns exemplos dos muitos trabalhos de investigação que foram apresentados em Lisboa ao longo dos quatro dias de trabalhos nas diversas reuniões do congresso e serão editados na habitual Acta Horticulturae. •

Brokerage Event mantém-se on-line

O IHC realiza-se de quatro em quatro anos e uma novidade desta 28ª edição de Lisboa foi um Brokerage Event para troca bilateral de tecnologia entre investigadores e/ou entre investigadores e instituições ou empresas. “Foi um sucesso”, diz Luís Mira, presidente da INOVISA – Associação para a Inovação e o Desenvolvimento Empresarial, criada no âmbito do Instituto Superior de Agronomia – que organizou o Brokerage com o apoio da ADI. É muito difícil de quantificar mas o balanço foi seguramente “muito positivo”, afirma, porque das 700 reuniões para a troca de tecnologia, algumas foram canceladas “mas sabemos de muitos participantes que se encontraram na zona de Posters e noutros locais e que acabaram por reunir e muitos outros que se foram encontrando noutros espaços do Congresso”.

Luís Mira adianta que “muitos participantes pediram-nos também para não deixarmos cair esta plataforma, entre congressos (que se realizam de quatro em quatro anos) por isso a INOVISA, em conjunto com a nova liderança portuguesa da ISHS, partindo da base de dados de cerca de 700 pessoas com que ficámos, vai preparar uma pla-taforma de transferência de tecnologia que esteja activa on-line, que possa funcionar sempre”.