A Rússia suspendeu o acordo que permitia à Ucrânia exportar os seus cereais durante o último ano. O governo russo declara que não estavam a ser respeitados os termos do acordo que diziam respeito à exportação de fertilizantes e produtos alimentares russos.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, acrescentou que a Rússia voltará ao acordo quando as suas exigências forem satisfeitas. O país defende a reconexão do banco agrícola russo, Rosselkhozbank, ao SWIFT, o levantamento das sanções sobre peças sobressalentes para máquinas agrícolas, o desbloqueio da logística de transportes e seguros, o descongelamento de ativos e a retoma do funcionamento do oleoduto de amoníaco Togliatti-Odesa, que explodiu a 5 de junho.
Recep Tayyip Erdoğan, mediador do acordo no verão passado, já prometeu falar com Vladimir Putin e disse que acreditava que a vontade do Presidente russo era o regresso à sua implementação.
Por sua vez, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky anunciou ter proposto à Turquia e às Nações Unidas (ONU) a continuação do acordo numa versão sem Moscovo.
O presidente ucraniano afirma mesmo que o acordo original foi diretamente firmado com a Turquia e com a ONU, não com a Rússia e, como tal, continua válida. “A única coisa que precisamos agora é de o implementar cuidadosamente, e de pressionar de forma decisiva o Estado terrorista” russo, sustentou.
Uma das opções propostas por Kiev passaria pela marinha turca escoltar as embarcações através do Mar Negro — algo que implicaria que a Turquia, país da NATO e próximo de Moscovo, entrasse em confronto direto com os navios militares russos na região.
Outra alternativa prevê a criação de um fundo estatal de 500 milhões de euros para cobrir os danos causados por eventuais ataques russos. Esta ideia, defendida pela Associação dos Cereais da Ucrânia, colocaria a Comissão Europeia a pagar a verba, que posteriormente seria reembolsada pela Ucrânia numa data futura. Bruxelas, até ao momento, não deu indicações de aceitar esta proposta.
Esta decisão impacta a União Europeia, assim como Portugal. Em declarações à Renascença, o secretário-geral da Confederação dos Agricultores em Portugal (CAP), Luís Mira, explicou, antes do fim do acordo, que uma eventual solução pode passar pelos “operadores em Portugal comprarem cereais noutros destinos, como na América do Sul, EUA ou Canadá, onde o transporte é ligeiramente mais caro”.
O acordo permitiu que 32,9 milhões de toneladas métricas (36,2 milhões de toneladas) de alimentos fossem exportados da Ucrânia desde agosto, mais de metade para países em desenvolvimento, de acordo com o Centro de Coordenação Conjunto em Istambul.