O Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou recentemente a edição de 2023 das “Estatísticas Agrícolas”, que faz um retrato atual e abrangente da agricultura nacional através dos dados referentes ao último período temporal disponível em cada setor.
Produção vegetal
No que toca à produção vegetal, o INE indicou que o ano agrícola 2022/2023 em Portugal continental caraterizou-se, em termos meteorológicos, como “extremamente quente”, sendo o mais quente desde que há registos sistemáticos (ano agrícola 1931/1932).
A campanha dos cereais para grão de outono/inverno 2022/2023 foi, de acordo com o Instituto, “muito marcada pela seca severa da primavera”, tendo totalizado as 93 mil toneladas, “consideravelmente abaixo das obtidas nas três secas severas anteriores” (2005, 2012 e 2022).
“Os cereais semeados tardiamente após as chuvas de dezembro e janeiro foram muito penalizados, com emergências e desenvolvimento vegetativos fracos. A ausência de precipitação na primavera e as elevadas temperaturas prejudicaram muito o desenvolvimento vegetativo dos cereais praganosos de sequeiro, promovendo o seu adiantamento e o espigamento precoce”, explicou o INE.
No entanto, apesar de dificuldades pontuais de escoamento e armazenamento do milho para grão, devido à concentração das colheitas antes das chuvas, registou-se um aumento de produção de 7%, face a 2022. Já a produção de arroz subiu 15% devido aos aumentos de área e, principalmente, de produtividade.
A área de tomate para a indústria foi de 17,2 mil hectares (+13%) e a produção de 1,69 milhões de toneladas (+19%), “posicionando esta campanha como a segunda mais produtiva”, explica o INE.
De acordo com o Instituto, a produção de maçã foi semelhante à de 2022, embora na região do Oeste tenha registado um decréscimo de 15%. EmpORTU contrapartida, a produção em Trás-os-Montes aumentou cerca de 8%, tendo parte da produção sido desviada para a indústria.
No que diz respeito à produção de pera, pelo segundo ano consecutivo, registou um decréscimo (-11%, face a 2022), sendo a pior campanha desde 2012 devido às condições meteorológicas adversas. “A intensificação do fogo bacteriano tem exercido uma pressão acrescida sobre o setor, obrigando ao arranque e abandono de muitos pomares nas zonas afetadas”, explica o relatório do INE.
Já a produção de cereja foi de 11,8 mil toneladas, o que corresponde a menos de metade da alcançada em 2022. Segundo o serviço nacional de estatísticas, os pomares foram fortemente afetados pelas condições climatéricas adversas que condicionaram todo o ciclo, desde a diferenciação floral, floração e vingamento do fruto até à maturação.
A produção de kiwi decresceu 8%, “mas a qualidade dos frutos foi muito boa, evidenciando calibres regulares, com reflexo positivo nos preços”, enaltece o relatório.
Com exceção do limão, os citrinos apresentaram “uma redução significativa das produções”, explicada pela boa produção do ano anterior e pela seca severa, nomeadamente no Algarve, onde houve restrições na utilização de água para rega. Nas variedades de laranja tardias o decréscimo foi da ordem dos 50%, “contribuindo decisivamente” para a diminuição global de 26%.
Pelo terceiro ano consecutivo, a produção de castanha foi condicionada por problemas fitossanitários, agravados pelas secas, com impacto na qualidade e quantidade da produção global colhida, que foi inferior em 1/3 em relação à média do último quinquénio, indica o INE.
Relativamente à produção de vinho, o relatório refere que aumentou em quase todas as regiões, atingindo os 7,4 milhões de hectolitros, “o valor mais elevado desde 2001”, explicando que, de um modo geral, “os vinhos apresentaram estrutura complexa e equilíbrio entre o teor alcoólico, a acidez e os taninos”.
Por fim, a produção de azeite ultrapassou os 1,75 milhões de hectolitros (160,8 mil toneladas), “o que corresponde à segunda campanha oleícola mais produtiva de sempre”, avança o relatório, que indicou também que o elevado teor de humidade das azeitonas dificultou a extração de azeite, o que resultou numa funda menor.
“As condições meteorológicas adversas ocorridas desde janeiro de 2023, nomeadamente a escassa precipitação e as elevadas temperaturas para a época, em particular a sul do Tejo, condicionaram fortemente o ciclo vegetativo dos prados, pastagens e culturas forrageiras, penalizando o seu desenvolvimento e, consequentemente, a produção de biomassa destinada à alimentação dos efetivos pecuários”, lê-se no relatório.
Produção animal
Segundo o INE, a produção total de carne situou-se nas 904 mil toneladas, refletindo um decréscimo de 1,1%, quando comparada com 2022.
A produção de carne de reses (468 mil toneladas, incluindo a carne de bovinos, suínos, ovinos, caprinos e equídeos) registou uma descida de 4,3%, enquanto a produção de carne de animais de capoeira (inclui galináceos, perus e patos) cresceu 2,7%, tendo atingido as 421 mil toneladas.
No que respeita às reses, a carne de bovino (98 mil toneladas), suíno (356 mil toneladas), ovino (12,4 mil toneladas) e caprino (1,1 mil toneladas), mostraram reduções face a 2022, que foram de 5,1%, 3,6% e um decréscimo idêntico de 16,4%, para ovinos e caprinos, respetivamente.
Já a produção de carne de frango (337 mil toneladas) cresceu 2,3%, tal como a carne de pato (12,7 mil toneladas), que apresentou uma variação positiva de 23,8%. Pelo contrário, a carne de peru registou uma descida de 2,3% em relação a 2022, com uma produção de 50,1 mil toneladas.
Relativamente à produção de ovos de galinha, totalizou-se, no ano passado, em 152 mil toneladas, um aumento de 1,8%, com o volume de ovos para consumo (131 mil toneladas) a crescer 1,6% e o de ovos para incubação (22,0 mil toneladas) a aumentar 3,2%, face a 2022.
A produção total de leite contabilizou 1.996 milhões de litros, correspondente a um aumento de 1,4% relativamente a 2022, com o volume de leite de vaca (1.901 milhões de litros) a aumentar 1,6% e os leites de ovelha e cabra com decréscimos de 2,6% e 4,9%, respetivamente.
“A produção da indústria de lacticínios nacional em 2023 resultou num maior volume total de produtos lácteos, evolução que ficou a dever-se ao acréscimo ocorrido nos produtos frescos (leite para consumo superior em 2,5%), já que o total de produtos transformados teve uma ligeira redução, com a produção de queijo a diminuir 4,8%, enquanto a manteiga e o leite em pó aumentaram 14,9% e 18,0%, respetivamente”, lê-se no relatório.
Agricultura e ambiente
Em 2022, foram comercializadas 9,1 mil toneladas de substâncias ativas de produtos fitofarmacêuticos, o que reflete uma redução de 5,7% face a 2021. Para este decréscimo contribuiu a diminuição das vendas de glifosato (- 22,0%), substância ativa que concentrou 75% do total das vendas de herbicidas, representando 15,8% do total das vendas de produtos fitofarmacêuticos.
De acordo com o serviço nacional de estatísticas, o consumo de fertilizantes cresceu 38,6% em 2023, justificado em grande parte pelo decréscimo do índice de preços dos fertilizantes (-24,8%).
Em 2023, o balanço do azoto no solo foi de 154,8 mil toneladas (133,5 mil toneladas de azoto em 2022), resultado de um crescimento na incorporação de azoto no solo (+25,1 mil toneladas de azoto), mais acentuado do que o aumento de azoto removido pelas culturas (+3,8 mil toneladas).
A atividade agrícola, no ano de 2022, foi responsável pela emissão de 6,9 milhões de toneladas de gases com efeitos de estufa (GEE), o que corresponde a 1,8 toneladas de GEE/ha SAU (redução de 3,1% comparativamente a 2021).
O consumo direto de energia da atividade agrícola atingiu 16,4 milhões de GJ em 2022, o que traduz uma redução de 7,0% relativamente a 2021, “sobretudo devido ao aumento dos preços do petróleo e da eletricidade, as principais fontes de energia utlizadas no setor agrícola”, explica o INE.