A agricultura é um setor altamente permeável à inovação e tem feito uma transição notável para novas técnicas e tecnologias num curto espaço de tempo. Embora ainda tenhamos um setor a dois tempos (um núcleo profissional e sofisticado que convive com uma maioria ainda sem grande capacidade de evoluir), é muito entusiasmante perceber a evolução e constante experimentação em busca de novas ferramentas de apoio à gestão das explorações.
Na área da vitivinicultura esta abertura é muito evidente. O setor esteve sempre na frente na adoção de inovação e assumiu mesmo o pioneirismo em temas de agroecologia e na transição para sistemas mais sustentáveis. Os vitivinicultores cedo perceberam o desafio de ter de vestir vários “casacos”: produtor de uvas, produtor de vinho, gestor, vendedor, storyteller, e por aí fora… camadas de complexidade que tornaram estes empresários e gestores gente com mundo, com visão, com enorme sede de conhecimento, resilientes e com uma incrível capacidade de adaptação à inovação e à mudança. Nada disto é linear e implica muito test and learn e, obviamente, erro. Um erro que é valorizado como uma experiência valiosa e que permite ajustar eficiências e ganhar conhecimento para tomar decisões.
Na véspera de mais uma conferência da VIDA RURAL onde o tema é “Menos é mais?” na vitivinicultura, e onde a experimentação será tema-chave, ressalvo que todas as inovações, tecnológicas ou não, têm prós e contras. Vantagens e desvantagens, benefícios e danos colaterais. Sem as testarmos não as podemos descartar. E isso cabe aos pioneiros. É por isso que é importante falar, partilhar e refletir sobre experiências, mesmo aquelas sobre as quais não temos opinião favorável. Porque é importante conhecer os enquadramentos (nem todos temos as mesmas condições de produção, nem os mesmos desafios concretos) e perceber o que leva alguém a testar e quais os resultados. Perceber isto é vencer preconceitos, sejam ideológicos, técnicos ou culturais. Porque muitas vezes é preciso ter capacidade para nos colocarmos em causa e desconstruir a nossa visão para deixar entrar ideias novas. Mesmo que seja para concluir que estávamos a fazer tudo certo.
“É preciso saber valorizar um setor que arrisca em soluções que poucos conhecem e que tem capacidade para falar sobre isso e partilhar as suas experiências.”
Isto para dizer que é preciso saber valorizar um setor que arrisca em soluções que poucos conhecem e que tem capacidade para falar sobre isso e partilhar as suas experiências. No fundo, é isto que distingue os acomodados dos que preparam o futuro.
#agricultarcomorgulho