A pandemia de covid-19 deverá provocar, “seguramente, mais abandono das vinhas” e haverá também “mais empresas a abandonar a atividade”, de acordo com Frederico Falcão. No discurso de abertura do Fórum Anual Vinhos de Portugal, o presidente da ViniPortugal sublinhou ainda que o setor já está a sentir uma “forte pressão sobre o preço dos vinhos”, citado pelo Jornal de Negócios.
Para Frederico Falcão, “a área de produção no país vai-se reduzir” devido à atual crise, pelo que sugere à ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, o levantamento das limitações previstas no regime de autorizações de plantação de vinha, que entrou em vigor em 2016.
“O atual 1% de autorizações [para plantação de vinha] é insuficiente para acompanhar este abandono. O setor deve aumentar a percentagem máxima autorizada, aproveitando a revisão do sistema que deverá ocorrer em 2022 ou 2023”, reclamou o ex-CEO da Bacalhôa, que liderou o Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) entre 2012 e 2018.
A atual legislação prevê que anualmente sejam disponibilizadas a nível nacional autorizações de novas plantações até 1% da superfície plantada com vinha (área medida a 31 de julho do ano anterior), sendo que pode até ser aplicada uma percentagem inferior ou limitada a emissão a nível regional. As autorizações são intransmissíveis e válidas por um período de três anos, podendo os produtores ser sujeitos a sanções administrativas se não forem utilizadas durante esse período.
Lembrando que 75% do setor é constituído por microempresas, o presidente da ViniPortugal chamou a atenção para um maior envolvimento destes operadores nas ações de promoção que vão ser realizadas a nível internacional durante o próximo ano. Com um orçamento ligeiramente abaixo dos 8,5 milhões de euros que antecipou em outubro, a verba para a promoção dos vinhos portugueses para 2021 ascende a 7,15 milhões de euros.
O plano apresentado esta quarta-feira, 25 de novembro, abrange um total de 21 mercados, sendo 13 deles países terceiros que ficam com uma fatia de 71% dos gastos previstos. Estados Unidos, Canadá, Brasil e China concentram 52% do investimento total em iniciativas de promoção. Bélgica, Ucrânia e México entram no grupo de destinos-alvo no próximo ano.
“É um plano de promoção ambicioso. Temos de estar mais próximos dos mercados e iniciar presença noutros em que temos alto potencial de crescimento. Temos de abrir mais mercados e ajudar o setor neste momento difícil. Até setembro de 2020 exportámos mais, mas exportámos pior [quebra de 1,3% no preço médio]. E temos de contrariar essa tendência, valorizando mais os nossos produtos e assegurando a sustentabilidade económica do setor”, resumiu o responsável.
Apesar de Portugal ter, atualmente, “um reconhecimento internacional como nunca teve”, Frederico Falcão defende a promoção da marca Portugal, tal como é feito por outros países. “Se os chilenos ostentam o ‘proudly produced in Chile’, temos também de promover e não esconder a nossa marca Portugal”, acrescentou.
Recorde-se que as exportações dos vinhos portugueses registaram, nos primeiros nove meses deste ano, um aumento de 2,4% em valor e 3,8% em volume, caminhando para um novo valor recorde nas vendas ao exterior, “apesar da enorme crise no comércio internacional”. Os mercados com melhor comportamento foram Brasil, Suécia, EUA e Suíça, enquanto as maiores perdas até setembro foram registadas em Angola, China e França.
“Este comportamento é bem evidente do reconhecimento internacional que os nossos vinhos vão conquistando, sendo já considerados um valor seguro em vários mercados. O trabalho bem feito nos últimos anos está a dar os seus frutos”, concluiu Frederico Falcão, sustentando que Portugal regista taxas de crescimento superiores à dos concorrentes diretos nos principais destinos em que opera.