Das cinzas da SAPJU (Sociedade Agro-Pecuária João Urbano) nasceu o maior produtor de carne do país, com a carteira de negócios assente na exportação. Desde a falência da primeira falência, a firma passou por mais dois proprietários, sempre com a atividade em perda. Há um ano, Clara Moura Guedes assumiu a sociedade e a casa tem regressou aos resultados positivos.
Uma empresa aparentemente inviável tornou-se, no primeiro ano da nova gestão, num caso de sucesso. O equilíbrio operacional foi conseguido no primeiro ano da nova gestão. Para este segundo exercício espera-se que a facturação mais do que triplique.
Há um ano à frente da Monte do Pasto, empresa que assenta no que foi a SAPJU, Clara Moura Guedes conseguiu resultados operacionais positivos. Antiga gestora da Queijo Saloio, onde mantém 20% do capital, conta que há muito ainda para andar, pois a herança é pesada.
A falência da SAPJU atirou-a para a carteira do Banco Espírito Santo. Transferida para o Novo Banco, a empresa está hoje nas mãos de Clara Moura Guedes e do Fundo PME Capital Growth (universo BES). O montante da dívida é grande, mas a gestora não revela o número.
A empresa dedica-se à criação e engorda de gado bovino cruzado, e à produção de rações. A facturação em 2015 representou sete milhões de euros. A perspectiva para este ano situa-se entre os 25 milhões e os 30 milhões de euros.
Mais de 3600 hectares e 12.500 animais
A empresa Monte do Pasto é um grupo que detém 27 sociedades e nove herdades, num total de 3.684 hectares, nos concelhos de Alvito e de Cuba. Tem dois centros de engorda, no Monte do Trolho e no Monte Ruivo, e 50 parques de engorda. O número de animais em engorda ronda os 11.000. Em recria são cerca de 1.500 cabeças.
A área de criação em extensivo representa cerca de 3.000 hectares. O território encontra-se na área de rega de Alqueva, pelo que o potencial de rega, com água daquela infra-estrutura, representa 1.600 hectares. Quando estiver a ser regada, situação que Clara Moura Guedes diz esperar acontecer em breve, a Monte do Pasto terá capacidade para aumentar a produção animal, adianta a gestora. Com o aumento da área regada, deverão ser mais mil animais no campo.
No ano passado, a Monte do Pasto investiu dez milhões de euros na melhoria e modernização de infra-estruturas, mas também na compra de animais. O dinheiro foi aplicado em novos parques, sistema de alimentação unifeed, currais de maneio mais completos e sistema de leitura óptica dos brincos.
O investimento é para continuar, mas menos intensivamente, nomeadamente na frota de máquinas agrícolas, veículos de transporte de animais, parques de engorda e tratamento de águas residuais. A parte fabril beneficiará de um novo software de controlo.

Vocação exportadora
A Monte do Pasto é uma empresa sobretudo exportadora. O mercado nacional representa cerca de 10% da facturação. Esta empresa alentejana vende a várias empresas nacionais, mas não às grandes superfícies. A razão é simples de explicar: preço. Clara Moura Guedes salienta que a grande distribuição não valoriza a qualidade e que os portugueses optam pelo preço baixo.
Assim, 90% do negócio respeita à venda de animais vivos para países do Norte de África e do Médio Oriente. Embora não especificando, Clara Moura Guedes informa que são países onde existe escassez de carne de bovino, dificuldade de produção e valorização da qualidade. Em breve, vai vender para Israel, onde celebrou contrato com uma empresa local, com atividade de matadouro.
Apesar de serem reconhecidas como de grande qualidade, a Monte do Pasto não cria animais de raças autóctones portuguesas. A razão prende-se com a rentabilidade da produção. Assim, cerca de 70% dos animais são cruzados de limusine e perto 30% de charolês, sendo uma percentagem residual de angus. Em termos de perdas, a taxa é inferior a 1%.
A venda de rações é a aposta mais recente da empresa, visto que a capacidade de produção industrial supera as necessidades e há terra disponível para aumentar o cultivo de cereais. “Vamos ser mais agricultores do que somos”, refere a gestora.
A unidade de fabrico de ração tem uma capacidade de produção de 50 toneladas por hora. A capacidade de armazenamento é de matérias-primas é 2.183 metros cúbicos (43 silos). A capacidade de armazenagem de ração para suínos é de 350 metros cúbicos (cinco silos) e para bovinos é de 1.080 metros cúbicos (quatro silos).
Nas nove propriedades da Monte do Pasto existem duas reservas de caça, cuja gestão compete a duas associações de caçadores. Em breve, a empresa tenciona desenvolver um projeto de proteção ambiental, que será realizado em parceria com associações ambientalistas.
Artigo publicado na edição de abril de 2016 da revista VIDA RURAL