O aumento da pressão de pastoreio ameaça as pastagens nas regiões mais secas. A conclusão é de um estudo internacional com a participação de investigadores do Centro de Ecologia Funcional da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), agora publicado na revista Science.
Segundo explicado em comunicado, a investigação, levada a cabo por mais de uma centena de cientistas, descobriu ainda que o pastoreio pode ter efeitos positivos nos serviços dos ecossistemas, particularmente em zonas frias e ricas em espécies vegetais. No entanto, este impacto passa a ser negativo em climas mais quentes e com menor diversidade vegetal.
Os dados obtidos, que incluíram 326 terras secas localizadas em 25 países de seis continentes, indicam também que as relações entre clima, condições do solo, biodiversidade e serviços do ecossistema medidos variam com a pressão do pastoreio.
Segundo o artigo, a quantidade de carbono diminuiu e a erosão do solo aumentou à medida que o clima se tornou mais quente em condições de elevada carga de pastoreio, algo que não se observou sob baixa carga. Estes resultados sugerem que as respostas das terras secas às mudanças climáticas em curso podem depender da forma como é feita a gestão a nível local.
“Nós usámos protocolos padronizados para avaliar os impactos do aumento da carga de pastoreio na capacidade das zonas secas de prestar nove serviços essenciais do ecossistema, entre os quais se incluem a fertilidade do solo, a produção de forragem/madeira e a regulação climática”, explica o líder do estudo e investigador da Universidade de Alicante, Fernando Maestre.
A investigação sobre o pastoreio no Alentejo
Os investigadores da Universidade de Coimbra, coautores deste artigo científico, recolheram e processaram amostras, em dois locais no Alentejo, concretamente nas Herdades do Freixo do Meio e da Contenta.
A investigadora Helena Castro destaca que “o impacto do pastoreio varia em função da combinação das condições edafoclimáticas (relativo aos solos e ao clima) e da diversidade da vegetação, o que torna importante ter em consideração as condições de cada zona árida na definição de planos de gestão do pastoreio e pastagens”.
Já a investigadora Alexandra Rodríguez, considera que “este estudo é particularmente relevante para Portugal, onde as terras secas, em grande parte destinadas ao pastoreio, já representam mais de um terço do seu território, mas ocuparão muito mais no futuro, devido às alterações climáticas”.
Os autores desta investigação observaram ainda que a diversidade, tanto de plantas vasculares como de mamíferos herbívoros, está positivamente ligada à provisão de serviços essenciais, tais como o armazenamento de carbono, que têm um papel fundamental na regulação do clima.