A cotação da amêndoa tem estado em níveis historicamente altos nos últimos anos. Dada a estrutura altamente deficitária do mercado, é esperado que o negócio se mantenha rentável. O Alentejo não tem tradição de amendoal, mas o seu potencial associado ao regadio tornam-no numa excelente alternativa às culturas existentes.
A Migdalo é uma empresa jovem, criada em janeiro deste ano, e ambiciona ser uma referência nacional. O negócio é o da amêndoa, cuja plantação tradicionalmente estava centrada no Algarve e no Douro, mas que nos últimos anos está a avançar em força no Alentejo.
Situa-se em Ferreira do Alentejo, onde se encontram amendoais novos e, para além da produção, vai atuar na atividade do descasque da amêndoa. Três ramos da família Sevinate Pinto são os acionistas e também produtores deste fruto seco.
Os amendoais desta empresa familiar são regados. O fornecimento de água às árvores permite que os frutos atinjam um calibre maior. Acima dos 14 milímetros há uma majoração do preço, conta Filipe Sevinate Pinto, o responsável técnico.
Os amendoais mais antigos datam de 2013. A área em produção tem vindo a aumentar todos os anos. Em números redondos, em 2013 foram 18 hectares, 2014 mais 30 hectares. Em 2015 não houve plantio. Para este ano, o objetivo é alcançar mais 52 hectares num total de 100.
Até agora, as cultivares escolhidas foram a Belona (40%) e a Soleta (60%), ambas mediterrâneas e de casca dura. Para além destas também se enquadram na região a Guara e a Lauranne, entre outras, todas com floração tardia, autoférteis, com bons níveis de produtividade e de grande aptidão comercial, explica Filipe Sevinate Pinto.
A primeira colheita ocorreu em 2015, proveniente das árvores plantadas em 2013, somando 200 kg de miolo por hectare. Este ano vão entrar em produção as amendoeiras instaladas em 2014. Prevê-se que a produção duplique ou triplique. “Ainda não estamos em velocidade de cruzeiro”, refere Filipe Sevinate Pinto.
As amendoeiras têm uma vida útil entre os 20 e os 25 anos, produzindo a partir do terceiro ano. A velocidade de cruzeiro acontece no quinto ano. O plantio faz-se desde a primavera até outubro. A apanha acontece no final do verão, podendo ser em agosto, num intervalo de dois meses. Aqui existe uma coincidência com as vindimas.
Um ano diferente
Em 2016, registaram-se poucas horas de frio, muita geada e chuva na floração (habitualmente no início de março). “Houve condições difíceis, mas é um bom ano. Este ano é, para nós, o de afirmação da cultura”, informa Filipe Sevinate Pinto.
Os pomares dos três ramos da família que fornecem atualmente a Migdalo juntamente com as novas plantações previstas assegurarão cerca de 50% das necessidades da sociedade. Os restantes 50% serão assegurados através de parcerias que se estão a desenvolver com a produção da região.
A água que alimenta os pomares provém da barragem do Roxo. A rega faz-se pelo sistema gota a gota. “A amendoeira é uma cultura muito consumidora de água. É o dobro da do olival”, prossegue o técnico e sócio da Migdalo.
No entanto, a amendoeira é uma árvore que resiste bem à secura. “Mas a rega torna-a muito mais produtiva”, salienta Filipe Sevinate Pinto. O custo da água representa cerca de 10% dos custos de exploração, que podem chegar aos 2000 euros por hectare.
A produção da amêndoa mostra-se interessante para os agricultores, estando a Migdalo a constituir-se como empresa industrial de referência, como fator de agregação e desenvolvimento do setor. “O projeto passa muito por parcerias com outros. A produção vai ser muito alavancada com produtores da região”, informa Filipe Sevinate Pinto.
O custo de plantação ronda os 5000 euros por hectare. As plantas vêm de Espanha, onde se tem de pagar royalties das melhores cultivares. A plantação é mecanizada, sendo administrada uma injeção de adubo junto à raiz, além de fornecimento de água.
O compasso do pomar tem vindo a minguar, pois as plantas dão sinais positivos. Esta prática permite uma mais rápida ocupação do terreno. Passa-se do modelo mais tradicional para “um sistema mais moderno e que estimula maior crescimento vegetativo, com lançamentos mais finos e mais produtivo”, explica o técnico. Inicialmente, o compasso era de sete por cinco: “Tudo o que seja nova plantação estamos a aconselhar um compasso de seis por quatro”.
O poder de antevisão
Filipe Sevinate Pinto elogia a escolha do pai (Armando Sevinate Pinto), que salienta que foi “um visionário”. “Percebeu a tendência de mercado e porque Portugal é importador. Pensou na noz, mas achou que a amêndoa é mais indicada para o clima português”.
A amendoeira é uma árvore tradicional da agricultura portuguesa, muito embora não o seja no Alentejo, onde os amendoais da família Sevinate Pinto estão instalados. Filipe Sevinate Pinto explica que nesta área se consegue um crescimento rápido e boa produtividade.
Outra vantagem é a complementaridade com o olival. As épocas das colheitas estão desencontradas e a maquinaria é a mesma. Embora as práticas sejam diferentes, “quem faz olival adapta-se facilmente ao amendoal”, adianta Filipe Sevinate Pinto.
À amêndoa tem de ser retirar o mesocarpo, a designada despela, que pode ser realizada no campo. “Seguidamente faz-se a secagem, processo que pode ser repetido diversas vezes, conforme os níveis de humidade. Faz-se com casca e depois quando for produto acabado”.
A produção dos Estados Unidos da América representa 80% do total, enquanto a da União Europeia se fica pelos 8%. O bloco europeu importa anualmente entre 225 e 265 toneladas, sendo 90% oriundas dos Estados Unidos da América – segundo o Departamento de Agricultura (USDA). A Alemanha, Espanha, Itália e Holanda representam 75% do consumo na União Europeia. Potenciais bons clientes são também os países do Médio Oriente e a Índia.
Fábrica pronta a laborar
A Migdalo tem agora uma unidade industrial, que se traduziu num investimento de 2 000 000 euros. No entanto, respeita apenas à primeira fase, e houve a preocupação de construir com espaço para que a produção possa aumentar.
No exterior, faz-se a receção dos frutos, uma pré-limpeza e a despela. Na nave, faz-se uma armazenagem dos frutos ainda com casca, que serão descascados acompanhando as necessidades comerciais., o que permite “laborar muito depois da campanha”.
Esta unidade fabril dispõe de britadeira (descasque), calibradora e escolhedores eletrónicos, que fazem a separação por calibres. “Quanto mais homogéneo for, mais passível de conseguir melhor preço”, informa Miguel Matos Chaves, diretor-geral da Migdalo. Contudo, o olho humano é o que ditará a última sentença, numa mesa de escolha utilizada na última fase de pré-embalamento.
A pele exterior do fruto pode ser aproveitada para alimentação animal. Devido ao grande poder calorífico, as cascas podem ser utilizadas em sistemas de aquecimento.
As máquinas são da Borrell, estando os funcionários da Migdalo a receber formação. A empresa emprega atualmente quatro pessoas, dois do quais operários.
Para o futuro projeta-se a criação de marca própria, com diferentes vertentes com valor acrescentado, como amêndoa laminada, palitada ou torrada, entre outras. A unidade “está preparada para futuramente poder incorporar essas fases do processo”, diz Miguel Matos Chaves. Têm sido realizados ensaios com frutos da colheita do ano passado.
Vendas prometedoras
O mercado dos Estados Unidos da América representa 85% do total. Porém, Espanha também influencia o setor. “A amêndoa americana é de casca mole. As variedades de casca dura são as mediterrâneas, que são mais valorizadas e têm uma conotação de qualidade”, salienta o diretor-geral da Migdalo. Assim, o preço varia conforme as cultivares, para as quais existe cotação em mercados. “A Marcona pode chegar aos 8,10 euros e a Largueta aos 6,75 euros. Os frutos indiferenciados, de calibres mais pequenos ou misturados, podem valer até 5,50 euros, segundo as últimas atualizações” – informa Miguel Matos Chaves. Embora represente uma quebra, expectável após os máximos históricos atingidos na campanha anterior, a cultura mantém níveis de rentabilidade altos.
Acompanhando a subida dos preços, o número de pomares e de área irá certamente aumentar, sendo que existe espaço no mercado internacional para absorver esse acréscimo de produção. “Ainda assim, o negócio será rentável mesmo que se verifique uma quebra para metade do valor da amêndoa em relação aos valores verificados na campanha do ano passado” – diz Filipe Sevinate Pinto.
Esta unidade vai garantir o escoamento e valorização da amêndoa alentejana com alternativa a Espanha, reduzindo a distância entre a produção e a indústria e funcionará como agregador da produção, tendo como fornecedores desde o pequeno ao grande agricultor. Só no Alentejo foram cultivados 2000 hectares, havendo perspetiva de mais 5000. Como comparação, Filipe Sevinate Pinto refere que existem 22 000 hectares com vinha.
Artigo publicado na edição de setembro de 2016 da revista VIDA RURAL