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Ainda é a cultura que está a suportar esta zona

Ainda é a cultura que está a suportar esta zona

Apesar do preço ter descido ligeiramente este ano, e todos os custos de produção continuarem a aumentar, o tomate para a indústria é uma cultura rentável. O facto de Portugal ter ‘o melhor concentrado do mundo’ está a atrair novos clientes, como a China.

Portugal é o terceiro produtor mundial de tomate processado. O tomate nacional é valorizado para a indústria pelo elevado grau brix que possui mas também pelo alto teor de licopeno.

Os preços desceram mas a cultura continua rentável e, apesar do desligamento total das ajudas no próximo ano, “como o tomate nacional produz o ‘melhor concentrado do mundo’ há cada vez mais países interessados, como a China”, diz-nos Carlos Domingos, da Sociedade Agrícola da Azeitada, em Benfica do Ribatejo.

 

O maior problema é que, na zona, já não há muitas terras disponíveis. Mas poderá talvez ser uma cultura a ponderar para algumas das novas zonas de regadio criadas por Alqueva.

A área de cultivo de tomate para a indústria em Portugal deverá recuar este ano cerca de 5%, para 16 mil hectares, segundo as últimas previsões agrícolas do Instituto Nacional de Estatística (INE). Mas “a prorrogação, a título excepcional, do prazo de cobertura do seguro de colheitas para a cultura do tomate para a indústria, garantiu a segurança necessária para que os agricultores avançassem com as plantações”, diz também o INE.

 

Este ano foi atípico, com muita chuva e até muito tarde, pelo que o início de cultura só se deu um mês mais tarde, em Maio. Apesar disso, este agricultor de Benfica do Ribatejo, considera que os pro-dutores vão conseguir recuperar algum atraso, mas a campanha deverá prolongar-se uma a duas semanas. “No ano passado estávamos despachados a 12 de Setembro mas este ano pode ir quase a Outubro”, admite.

“Não está fácil, estamos numa fase difícil, mas ainda é o tomate que está a suportar a zona”, diz-nos Carlos Domingos. Uma cultura que faz “há muito tempo. Já antes da criação da empresa, em 1983, com dois sócios, produzia em nome individual”.

 

As suas parcelas são todas na zona de Benfica do Ribatejo e Almeirim, e por ali o tomate é a cultu-ra dominante, embora as parcelas não sejam muito grandes, pelo que não há muitos pivots, “por-que não é possível, são parcelas de cerca de 15 hectares onde se usa rega gota-a-gota por fita, além de que em muitas propriedades, aqui nesta zona de ‘barro’, não há electricidade. Por isso usam-se motores, o que encarece muito a cultura por causa dos combustíveis”, explica Carlos Domingos. Na margem direita do Tejo já há parcelas mais uniformes e maiores e já há muitos mais pivots.

O agricultor conta que 30 a 40 produtores da zona já falaram várias vezes com a EDP mas a eléc-trica nacional “não se mostrou interessada… e os custos são muito elevados para os agriculto-res. Dou-lhe um exemplo: numa outra parcela que temos do lado da Vala, pagámos 6000€ em Outu-bro para nos instalarem um posto de transformação a uma distância de 300 metros e ainda não está pronto”.

 

Mas “esta zona tem dos melhores solos a nível nacional para a cultura do tomate, ou qualquer outra cultura”, garante o agricultor. Na zona entre Benfica do Ribatejo e Vala de Almeirim o terreno já é mais arenoso.

Todo o tomate da região é para a indústria, aliás é daquela zona que sai a maior parte da pro-dução nacional de tomate para transformação e a Torriba – Organização de Produtores Hor-tofrutícolas (a maior da região) é quem trata dos contratos com as fábricas. Contratos que depois “distribui pelos associados, adjudicando o que cada um pode fazer, tendo por base a pro-dutividade média da zona que anda entre as 80 a 90?t/ha. Nós, este ano, temos 7200 toneladas”.

A Torriba elabora também todos os anos um caderno que dá a cada produtor, de acordo com o exigido por cada fábrica, com que o produtor vai trabalhar. Ficam assim especificados todos os herbicidas, insecticidas e fungicidas que o agricultor não pode utilizar e a associação apoia também os seus associados em tudo o que são análises de solo, águas, etc. E tudo é registado no caderno, “incluindo as datas em que fazemos os tratamentos”, afirma o produtor.

No início da campanha fazem-se os acertos da estimativa de produtividade que, naturalmente, é muito influenciada pelo clima.

Uma cadeia muito bem organizada

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Segundo Carlos Domingos, o preço do tomate para indústria desceu este ano cerca de 0,10?€/ /kg, um valor ainda incerto, dado que é a associação que negocia o preço global. Como a produção do ano passado foi excepcional a nível de quantidade, as fábricas ficaram com muito tomate em stock. Para além disso, os preços também baixaram a nível internacional, pelo que as indústrias em Portugal tiveram igualmente de reduzir cotações para serem competitivas”.

Nesta cultura tem de estar “tudo muito bem organizado porque cada produtor tem de apanhar 2% da sua quota por dia e ir entregar à fábrica”, explica o produtor. Como as fábricas têm uma capacidade limitada a X toneladas por dia, durante a campanha a Torriba faz a gestão diária, falando com os produtores, e à meia-noite envia para a fábrica a relação de quem vai entregar nesse dia. “Porque um produtor pode ter um problema com uma máquina ou o tomate não estar ainda no ponto e assim acerta-se com outro que possa colmatar para bater tudo certo. Todos temos interesse em que tudo corra bem”, garante Carlos Domingos.

A escolha da variedade – entre as muitas disponíveis – é feita pelo agricultor que, em geral, “já tem muitos anos de expe­riên­cia” e é mais um factor que influencia o grau brix pelo qual o tomate é remunerado, a somar ao solo e ao clima. “Além do preço base negociado pela associação, a fábrica mede este grau e segundo os seus escalões (normalmente quatro) paga em função disso”, explica o produtor.

O grau brix varia entre 3,6 e 5,6 mas nesta zona situa-se normalmente entre 4,8 e 5,2. Já no Campo de Vila Franca anda quase sempre acima do 5,2.

No entanto, adianta Carlos Domingos “há algumas variedades que têm um grau mais elevado, mas que as fábricas também não querem porque a polpa tem pouca consistência e muita água”.

Uma questão que aquele agricultor levanta é que se a indústria é remunerada pelo elevado teor de licopeno que tem o concentrado de tomate português “porque é que o produtor também não é pago por isso. Somos pagos pelo brix, então porque não também pelo licopeno se isso é um factor de valorização do nosso produto para quem compra às fábricas?”

Nos custos da produção de tomate o que pesa mais são os pesticidas e os fertilizantes e, em termos globais, “tirando o tomate que tem escoamento garantido, o maior problema que enfrentam os agricultores é o escoamento dos seus produtos devido à forte concorrência dos produtos espanhóis. Não conseguimos produzir aos preços que eles conseguem, porque todos os factores de produção têm preços muito mais baixos. Em alguns produtos chega a ser 50% inferior”, lamenta Carlos Domingos.

Além do tomate, os agricultores da região fazem também habitualmente batata (também para a indústria e que a associação escoa essencialmente para a Matutano) e vários hortofrutícolas. “Este ano fizemos dois hectares de batata e já tínhamos feito couve coração para exportar para a Holanda, como segunda cultura, depois do tomate. E agora estamos a plantar mais couve coração e couve-flor mas para fornecimento local”, conta o produtor. •

Meloa é ‘inovação’ em 2010

Carlos Domingos conta-nos que todos os anos faz uma cultura nova “para experimentar”. Fez cebola para a indústria, por exemplo, mas “aqui não dava porque o terreno é muito pesado”.

Este ano está a experimentar meloa, a pedido da Torriba. “A associação quer entrar no mercado dos hortofru-tícolas para dar outras alternativas aos seus associados. Assim fez uma central de lavagem e embalagem de cenoura mas ainda não está a funcionar porque precisa de ‘entrar’ primeiro no circuito das grandes cadeias de distribuição”, adianta o produtor.

A meloa – e outros produtos que pediu a outros associados para fazer – será uma ‘porta de entrada’, neste caso, destina-se às cadeias do grupo Sonae.